... por mais distraídos que fôssemos, ainda era preciso buscar distrações
fragmentos do trabalho de João Castilho
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Samurai
Quanto querer cabe dentro do fracasso? Gosto do fracasso do desamor choroso que desmancha lânguido no travesseiro do Homem que é só. Todos sabiam que não seria rápido transitar do controle, da opção pelo controle, da ilusão de controle até a exaustão transparente que tudo revela, tudo observa. Dizem que há uma arte de não interpretar como poesia corpórea do ator, o que finge que finge. Cair aos pés do vencedor, lançar água doce feito golpe nas suas fronteiras. Sussurrar o fracasso com gosto de maresia. É daí que surge a brisa. Ela invade. Não há brisa sem maresia. Não há fracasso que não se sinta atraído pelo balanço sonso do mar... Esse sim: onipresente, onipotente e tão ausente no querer. Mentira. Pára de mentir. Força forjada. Dizem que o amor atrai Samurais, vestidos de Baleia, na estação das Barcas, coreografados para o fracasso. Se não mata, feri. Apatia, desespero, vulnerabilidade, memória viva, corpo morto. A morte é a maior e mais evidente condição de estar vivo. É preciso estar vivo pra receber o fracasso, de braços abertos, divisas encharcadas, pernas esvoaçantes e pálpebras ácidas. A essa altura não dá pra negar a curva da existência. Guerreio desenhando um escudo atrás de mim mesmo, como quem nega o abismo hesitante. Esclarecedor. Convincente. Circunstancial. Tudo segue uma ordem? E nós?
quarta-feira, 3 de julho de 2013
ines
No Brasil, estimativa indicam que em 2010 cerca de 24 pessoas cometem suicídio por dia, principalmente em regiões mais desenvolvidas economicamente. Os maiores índices são do Rio Grande do Sul (11 para cada 100 mil), sendo Porto Alegre a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil).
sábado, 29 de junho de 2013
carta ines - segunda versao
ines: então o homo habilis criou a roda em que o hamster fica girando. girando. girando. girando... o ratinho falha com os prazos. demora demais para escolher um meio. erra a soma. reprova a sétima série... escolhas demais. muitas opções. não vai alguns aniversarios por preguiça. fuge do exame de próstata. não se comove mais com o discurso de dor de ninguém. desculpa, hem... roi a gaiola e observa a rua. um homem tem um orgasmo, uma mulher espera. um ritual de encarnação. o contorno das unhas sangram. Ninguém em pé na calçada. os relógios foram trocados pela ansiedade das pernas. tec tec tec tec tec tec. um morto-vivo cai. caí dentro do meu próprio umbigo e me arrependi de nunca ter lavado bem. uma gargalhada e o metrô vai embora. um elevador grita. mãos suadas puxam a corda. a máquina não pode parar se não a cidade implode. a babá deixa o próprio filho e atravessa a baía pra cantar para o filho de outra. qual dos motivos eu escolho para ficar no meio do caminho? a pele é só superfície. seria injusto a essa altura não dizer que eu nunca fiz uma carta. que depois de um certo cansaço, você não tem mais nada para dizer. e não tem nada a ver com sorvete, borboleta, relógio, fado. querer dormir quando se tem uma insônia é muito mais parecido que qualquer outra metafora. é só dormir. sem verso, sem razão, sem preparo. cicuta e mel em 2 goladas e meia. pensar em 3 razões para não cuspir naquele cobertor compulsivo em cima de você. repulsão ao próprio corpo. autoflagelação. culpa cristã. vontade de trepar com o capeta. 3 pedras de carbureto. gora, ratinho, gira. às vezes a gente cansa! de ter a pálpebra transparente e a pele ácida. uma hora todo mundo vai embora. é diferente pra nós e pra eles, o tempo. e ai ter que fingir fingir. mas a gente falha. e a gaiola fechada é aberta demais para ser inundada pelo gás. mas vc acha que morreu. e dorme. sem carta. aí vc acorda. e tudo bem. porque você conseguiu dormir e o tempo continua passando esquisito. mas tudo bem. você consegue dormir. tudo bem. tudo bem. tudo bem.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
desabafo roy - segunda versão
acende um cigarro
Gente. Eu não to entendendo mais nada! Tem um homem e ele fica por aqui dando ordens e tentando fingir que coincidência é escolha. Por mais que eu seja distraída eu fico buscando distrações e eu tenho uma lista pra cumprir. Mas vocês… vocês não. O que eles querem é que a gente exploda de tanto comer pão de queijo, não dá pra perceber? Mas de quem eu tenho mais pena mesmo é da pequenininha....tadinha. Fica todo mundo se esbarrando e pedindo desculpa e esbarra de novo e pede desculpa.
Eu queria aprender a não pedir desculpas mas essa coisa premeditada da alegria é muito decadente... Ihh...A gente nem se conhece. Desculpa. Ai, que exposição desnecessária.... A gente nem se conhece... Eu nem fumo na verdade...
come uma maçã enquanto fala. aos poucos vai ficando em pé em cima dos bancos
Eu tenho uma coisa pra falar. Ei! Eu preciso dizer uma coisa que eu comecei a pensar nos últimos minutos. Tem um homem aqui, o francês, ele é muito espaçoso e usa uns sapatos enormes. A mulher dele, coitada, é obrigada a lavar todos os dias as barcas ouvindo um monte de desaforo e ela consegue ser mais irritante quando esta bem-humorada. O nome dela é Inês porque perdeu toda a cor no mar. Ela era ruiva e deixa tudo , até a morte , com cheiro de maça verde. Enquanto isso você fica aqui, pegando sol, dançando. Hoje nem é seu aniversario! Seu nome nem é Homem. Eu to cansada de todo mundo me tratar como uma criança anã albina e to de saco cheio, de SACO CHEIO, de todo mundo fingir que nada aconteceu. Você nem trabalha aqui, eu perguntei pro moço. Pessoas não ficam por aí borboletando, como se voar e cair fosse a mesma coisa! Aquela bolsa tava aqui desde que eu cheguei. Não vem fingir que é normal, porque a gente mal se conhece e parece sempre que a gente nunca se viu ou que já somos íntimos. E para de me chamar de pequenininha e CHEGA de tradição. O homem corteja a menina. Barca tradicional. Tradicionalmente é falta de educação assobiar quando o outro tá falando. A probabilidade de soltarem a gente na índia e a gente nunca mais procurar a cara um do outro é maior que a probabilidade de isso tudo afundar agora. Será que vocês não percebem que depois que passa, fica tudo sozinho de novo? Ninguém tem controle. Vocês ficam se espiando no banheiro, inventando nome, tentando beijar os outros, mas o dinheiro que eu comprei a porra do pão de queijo era real. Vocês tão no meio do meu caminho e eu não esbarrei em nenhum menino albino em todo esse tempo. E talvez eu até pinte o meu cabelo para fingir que eu não sou ruiva. Se eu vou dar um tiro na sua cara ou não, quem vai saber? Vocês não me conhecem!
Eu estava chorando porque era mais fácil do que rir, mas não que divesse diferença. Era só agua da baia com derramamento de óleo. Eu estava parada, de olhos fechados, tentando me equilibrar e ouvi uma baleia passando. Nem tão fria que parecesse cínica, nem tao perto para ficar cega. Eu fiquei ali, esperando que a baleia me engolisse, no auge da sua crueldade, ela foi embora e me deixou vivendo. Eu só lembro do barulho do meu estomago. Ninguém vai embora, não?
quarta-feira, 19 de junho de 2013
primeiro corte
então o homo habilis criou a roda em que o hamster fica girando. girando. girando. girando... olha... falhei com os prazos. demorei demais para escolher um meio. errei a soma. reprovei a sétima série. fiz escolhas demais. tive muitas opções. não fui a alguns aniversarios por preguiça. fugi do meu exame de próstata. não me comovi com o discurso de dor de ninguém. desculpa, hem. um homem tem um orgasmo, uma mulher espera. um ritual de encarnação. o contorno das unhas sangram. Ninguém em pé na rua. os relógios foram trocados pela ansiedade das pernas. tec tec tec. um morto-vivo, sem nenhuma razão para existir a não ser provocar um acesso de cólera, numa cega que esbarra e cai por cima do corpo putrefato. caí dentro do meu próprio umbigo e me arrependi de nunca tê-lo lavado bem. uma gargalhada e o metrô vai embora. um elevador fogueteia. mãos suadas puxam a corda. a máquina não pode parar se não a cidade implode. a babá deixa o próprio filho e atravessa a baía pra cantar para o filho de outra. qual dos motivos eu escolho para ficar no meio do caminho? a pele é só superfície. seria injusto a essa altura não dizer que eu nunca fiz uma carta. que depois de um certo cansaço, você não tem mais nada para dizer. e não tem nada a ver com sorvete, borboleta, relógio, fado. querer dormir quando se tem uma insônia é muito mais parecido que qualquer outra metafora. é só dormir. sem verso, sem razão, sem preparo. cicuta e mel em 2 goladas e meia. pensar em 3 razões para não cuspir naquele cobertor compulsivo em cima de você. repulsão ao próprio corpo. autoflagelação. culpa cristã. vontade de trepar com o capeta. 3 pedras de carbureto. às vezes a gente cansa! de ter a pálpebra transparente e a pele ácida. uma hora todo mundo vai embora. é diferente pra nós e pra eles, o tempo. e ai ter que fingir fingir. mas a gente falha. e o apartamento pequeno é grande demais para ser inundado pelo gás. mas vc acha que morreu. e dorme. sem carta. aí vc acorda. e tudo bem. porque você conseguiu dormir e o tempo continua passando esquisito. mas tudo bem. você consegue dormir. tudo bem. tudo bem. tudo bem.
fim de partida
Eu não queria desistir antes da hora de fracassar completamente. Gosto do fracasso com gosto de maresia, subindo pela barriga da baleia como lodo. Cheirando a merda e livre arbítrio.
Tenho três argumentos. O primeiro é que não há ninguém mais observador do que eu nesse mundo, só Deus, assim mesmo é páreo duro, Ele leva vantagem pela onipresença; o segundo é que não há ninguém mais transparente do que eu, só a Baía de Guanabara mesmo; e o terceiro é que não há ninguém mais sonso do que eu, só mesmo vocês.
Resolvi radicalizar um pouco a minha estratégia.
A barca é da antiga e atrasou um minuto. Ela gira. Segue 899 destinos, deixando o rastro no caminho, que risca o mar preto com a espuma branca e o céu branco com a fumaça preta.
Tudo nela conduz ao passado; das cadeiras azuis ''reformadas'' com os braços de madeira, que, descascando, denunciam a ruína, até as janelas guilhotinadas, tão generosas com o vento que invade. Do lado esquerdo, alguns projetos não realizados. Do direito, dezenas de motivos para o vôo. Coletes laranjas no alto. É proibido fumar.
Seu design 3542 veio de Nova Orleans, USA, em 1950. Uma cidade que já virou ruína tem uma construção viva, nadando na baia de cá.
Pequenos lixos se acumulam rumo à eternidade dentro da mochila. Desculpa ter que forçar uma despedida. Eu queria ter entendido tudo isso um pouco mais que nada.
A treva está deixando de ficar atraente. E Ele, fracassado, não sabe mais se pode contar com a faxineira ruiva, a suicida apaixonada, a filha querida dos pais, o estudante, a deprimida, a dançarina, a síndica do prédio, o músico, a que rabisca, o gentil colaborador…
Enfim. Chego. Sou levado a crer que há construções nada construtivas e ruínas pouco arruinadas. Tudo segue uma ordem. E nós… não passamos de 0 e 1.
…
Não bate palma que ela não gosta de barulho quando tá amamentando os filhotes.
domingo, 16 de junho de 2013
Só uma palavra me devora
Só uma palavra me devora, aquela que meu coração já se cansou de repetir em voz alta, bom tom e muito som. Sabe o que é? Fugiu do orçamento, do planejado. Mimado, classe média, explosivo... Para não ser medíocre, classe baixa, covarde. Que descontrole é esse. Tudo isso é medo, romantismo, repúdio à ideia de reprodução dos modelos de herança? Qual a real força da barca genealógica que nos move... ou comprime? A treva está deixando de ficar atraente. E Ele, fracassado, não sabe mais se pode contar com a faxineira que namora, a suicida apaixonada, a filha querida dos pais, o estudante, a deprimida, a dançarina, o músico, o gentil colaborador... Enfim, já chega. O covarde sou mesmo eu. Desabafo aqui por sei que posso. Ou tá faltando personagem nessa história ou eu sobrei e ninguém ainda teve coragem de me dizer.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
desabafo
RORY:
Gente. Eu não to entendendo mais nada! Tem um homem e ele fica por aqui dando ordens e tentando fingir que coincidência é escolha. Por mais que eu seja distraída eu fico buscando distrações e eu tenho uma lista pra cumprir. Mas vocês… vocês não. Você fica aqui, pegando sol, dançando. O que eles querem é que a gente exploda de tanto comer pão de queijo, não dá pra perceber? Fica todo mundo se esbarrando e pedindo desculpa e esbarra de novo e pede desculpa. Hoje nem é seu aniversario! Seu nome nem é Homem. Eu to cansada de todo mundo me tratar como uma criança anã albina e to de saco cheio, de SACO CHEIO, de todo mundo fingir que nada aconteceu. Você nem trabalha aqui, eu perguntei pro moço. Pessoas não ficam por aí borboletando, como se voar e cair fosse a mesma coisa! Aquela bolsa tava aqui desde que eu cheguei e não é de ninguém. Não vem fingir que é normal, porque a gente mal se conhece e parece sempre que a gente nunca se viu ou que já somos íntimos. E para de me chamar de pequenininha, porque pequena é a a sua capacidade de analisar as coisas. É tudo uma tradição. O homem corteja a menina. Barca tradicional. Tradicionalmente é falta de educação assobiar quando o outro tá falando. Você acha que na lápide se escreve o nome ou quem foi? Quem é Inês? A probabilidade de soltarem a gente na índia e a gente nunca mais procurar a cara um do outro é maior que a probabilidade de isso tudo afundar agora. Será que vocês não percebem que depois que passa, fica tudo sozinho de novo? Para de fingir que existe controle. Nenhum de vocês sabe se eu vou entrar aqui ou não. Vocês ficam se espiando no banheiro, inventando nome, tentando beijar os outros, mas o dinheiro que eu comprei a porra do pão de queijo era real. Eu não sei de vocês. Eu sei de mim. E vocês tão no meu caminho. Eu não esbarrei em nenhum menino albino em todo esse tempo. E talvez eu até pinte o meu cabelo para fingir que eu não sou ruiva. Se eu vou dar um tiro na tua cara ou não, quem vai saber! Vocês não me conhecem! Vocês tão fazendo como se fosse desconfortâvel, mas ninguém quer ir embora! Inês? Cadê Inês? INES!
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Elisa, sinto falta das sutilezas e das coisas que você trouxe na composição. Texto, vontade, angústia... adoraria que vc terminasse de escrever comigo!
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Elisa, sinto falta das sutilezas e das coisas que você trouxe na composição. Texto, vontade, angústia... adoraria que vc terminasse de escrever comigo!
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Ensaio Aberto
coexistencia. encontros. perdemos o sentido cronologico. começamos nos encontros e a interação vai ganhando intimidade. a progressão é vaga. a intimidade é abrupta. do esbarrão em virtude do acaso para o íntimo não é linear. o tempo não é linear ou cíclico. é oscilante.
tudo é banal. não há importância. o sentido não é a questão. não é fluido. nada acontece, como em beckett, mas tudo está presente. são vários momentos. a construção não é a da importancia e a da verdade. é a construção do qualquer coisa.
a barca não tem o fluxo da cidade. é uma dilatação da realidade. você é obrigado a esperar.
as relações do não lugar e do não tempo não precisam ser esclarecidas.
os objetos são aleatórios e a expectativa neles são escolhas. a usualidadecasualidade do objeto muda a cada olhar sobre ele.
surge a poténcia da poesía, do lírico. o verso é abrupto. em seu surgimento esfumaça. o corpo é uma potência como a palavra.
o desequilíbrio é da barca ou pessoal?
a relação estava no espaço ou no pessoal? que interessa? explorar o espaço? é dinâmico. Mas a barca é dinâmica? Falta sutileza. E a sutileza se dá no espaço. Eles ganham intimidade entre si, quando começarem a ganhar intimidade com a barca. Não conseguimos compartilhar da intimidade. Eles já são outras pessoas. Fico confusa sobre a personalidade. o banco é específico e o andaime é concreto, mas sua função é abstrata. o andaime vem contra o espaço da barca.
a experiência real da barca é esgarçada. a barca é a espera da barca. é o ponto de ônibus. São os aeroportos e aviões. são os ires e voltares sem nunca sentir que se sai do lugar. diariamente, até o início.
a medida em que as relações forem acontecendo e ancorando, o espaço vai se firmando - sem deixar de ser fluido - e a barca fica mais palpável
nas relações superficiais, a gente não observa muito o espaço.
a barca seria um outro personagem? ganhamos intimidade com o espaço que passamos todos os dias? será que damos carinho às coisas que não nos dão nada em troca?
A barca com o avião é um espaço que não tem nome. a fronteira é um entre. o lugar é vazio. indefinido. Se sai e se chega. o meio é invenção.
O victor começa narrando. afoito. como se quisesse dar conta do acaso. suas camadas são a da narração - falha - e a materialidade, de apropriação - falha . O victor é uma falha. Não é possível dar conta.
Vamos fazer mais um momento de narração do Victor?
medo do silêncio.
medo do vazio
a gente se mexe pra não ser engolido pelo tempo.
primeiro eles deveriam ser distantes e ariscos, para a intimidade
na imaginação do autor a personagem teriam uma essência que vista de fora seria uma caricatura. . o teatro é um equivoco. uma traição. se um homem não se revela ao autor, porque um personagem se revelaria para seu interprete?
- tá tudo bem?
- o excesso de desdito protege a distancia
- você acha que tá longe?
- tá quase acabando
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rory: você quer conversar?
ines: não
rory: quer sentar do meu lado?
ines: a gente nem se conhece
rory: mas.. eu…
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ines: me fala uma coisa bonita?
victor: ah, essa de novo não. to ocupado escrevendo um romance
ines: hmmm
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ana: não sei por que compra o pão de queijo se vai fica tudo aqui.. (joga dentro da bolsa azul.)
sexta-feira, 7 de junho de 2013
domingo, 2 de junho de 2013
acontecimento barca em 360º
Foi logo num 25 de dezembro. Do
ano passado. Meu pai, médico, não conseguiu trocar o dia de plantão e teve que
trabalhar no natal, em Niterói. Fomos eu, minha mãe, meu irmão e minha vó
almoçar com ele em Niterói mesmo e voltamos pro Rio de Janeiro de barca.
Minha vó é
do interior de São Paulo, nem sabia que a barca existia. Minha mãe mora em
Petrópolis, nunca tinha andado de barca. Meu irmão, apesar de morar no Rio já
ha uns meses, também não. Guiei eles para a entrada e a barca saiu.
Já não
lembro muito bem, mas em algum momento percebemos que a barca estava dando meia
volta. Pensamos que havia acontecido alguma coisa no caminho, ficamos chateados
de ter que voltar para Niterói e arranjar um outro jeito de sair de lá. Aí
quando estávamos virados de volta para Niterói, a barca não seguiu reto.
Continuou virando, nos deixando finalmente de frente para o Rio de Janeiro de
novo. Aí ela não seguiu reto, continuou virando.
Foram
quatro horas rodando em volta de nós mesmos em plena Baía de Guanabara. Todos
foram informados de que a barca tinha algum problema, mas que tava tudo bem.
Claro que isso não evitou que muita gente entrasse em pânico. Em alguns
segundos metade da barca, inclusive minha mãe e minha vó, já tinha garantido
seu colete salva-vidas.
E uma
senhorinha, tadinha, que eu tava tentando acalmar com meus conhecimentos até
relevantes do funcionamento de um barco, pediu pra, se alguma coisa
acontecesse, eu salvar o filho dela e deixar ela pra lá. O filho aparentava ser
uns 10 anos mais velho que eu, com seus 20 cm a mais de altura.
Eventualmente
outra barca emparelhou com a nossa, amarraram as duas e finalmente atracamos no
Rio de Janeiro. Minha mãe, minha vó e o resto de meia barca tiraram os coletes,
seguimos nossos caminhos pra casa. Como já tava tarde, pegamos um taxi. E ainda
tivemos que ouvir nossa própria notícia no rádio. Rindo muito, é claro.
Por Maíra Barillo
sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
uma imagem
ana quase parada. letárgica. todos passam apressados por ela. como se o mundo estivesse acelerado e ela estagnada. os três entram e saem sem parar, traçando retas para todos os lados. Ana cai no chão. no mesmo segundo todos ficam em câmera lenta. ana se levanta. fica na mesma posição. quando termina de se ajetiar, tudo volta ao ritmo normal. ela letárgica, eles motorizados.
ensaio 30 de maio
Duvido do prólogo. Preciso rever a composição da elisa. Sera que precisa ser tao deslocada?? Sera que nao coloco dados das barcas? não subestimar a plateia. nao subestimar a plateia. nao subestimar a plateia.
Mudar rubrica! E acrescentar dados das barcas: coletes, tripulacao, etc. não subestimar a plateia. nao subestimar a plateia. nao subestimar a plateia.
Preciso juntar ines e as tomadas com wanda x. ines x. a que se suicida.... as outras te outros destinos
Extintor de incendio
E se o prologo for a analu dormindo?
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Rory desce do andaime.
Rory: uma senhora vomitou o banheiro inteiro pq ficou enjoada com esse cheiro de maçã verde.
Victor: estou reclamando da conduta dessa funcionaria ha tempos. ligo para o SAC e falo dessa funcionaria. a gente paga caro...... vc é digna de pena
Ana: vcs deviam pegar esses 4,50 e enfiar no cu
Rory: nossa. Aí que a gente vê quem recebeu educação em casa e quem não recebeu.
Inês: Vocês tão exagerando! Ela é ótima!
Ana: Brigada!
Inês: Me ajudou a achar meu brinco, já! Achar minha bolsa.
Victor: Como você perde coisa! Engraçado que eu nunca te vi com nada!
Rory: Ele é bem observador
Ana: Vou trabalhar!
Diálogo victor e rory ??
Anoitece. Ana fica nas barcas. Tira coisas de sua sacola e espalha pelo chão. Faz sua dança ritual de limpeza, canta e espalha produtos pelo chão.
(Composicao ana)
O foco vai para o andanime. Analu sobe enquanto victor, que estava escondido, desce. Ela danča em cima do andaime como se fosse um palco.
Victor começa a cantar com ela. No início ela se diverte, mas na altura da marcha fúnebre, ja acha assustador
(Dialogo A MANDO DE QUEM?)
Victor se revela em tom de brincadeira e ana relaxa. Deitam na varanda para olhar o céu. olham as nuvens. a fumaça. o cheiro de maçã verde indo embora com o vento. Rory entra e deita ao lado deles
Rory: voces sao muito esquisitos?
Victor: ta perdida pequenininha?
Ana: eu posso cuidar de você
Rory: tá td bem. Eu sou baixinha mas sou um pouco mais velha
Ana: hmmmm
Victor: ta bom, pequenininha
analisam a cidade de cabeça para baixo. comentam sobre os prédios.
DIALOGO ARQUITETO a tres
Amanhece. Rory gira o banco, revelando um altar de ana, preso com pregos atras dos bancos. Victor senta de costas na cadeira com o braco estirado para os lados. Ana continua pegando sol. Ines entra. Para. Desconfia que alguma coisa esta errada.
Ines: engracado. Nao vi voces entrarem na minha frente.
Ana volta trazendo chapeu de festa e aniversario de crianca e cantando parabens para o victor
ele fica emocionado, agradece
ana: quantos anos?
victor nao responde:
ana: hem, quantos anos?
victor, ah, alguns..
ana: aah, diz pra gente! (tenta puxar uma coro) quantos aaaanosss quantooosss anooss (ninguem aocmpanha). dá aqui deixa eu ver sua identidade.
victor: nao trouxe
ana: mentira, tá aqui no bolso, deixa eu ver. (eles brigam um pouco com os braços até que ana consegue arrancar a identidade dele. olha, fica seria e joga no chao.)
Victor: Ana, ana! (sai atra dela)
Inês: e eu, ue?
ines sai, rory pega a identidade no chao, guarda no bolso, risca a lista atras da cadeira e sai.
antes de nao me matar
falhei com os prazos. demorei demais para escolher um meio. não dei conta de vocês. não consegui que ninguém se apaixonasse por mim, nunca. reprovei a sétima série. não fui a alguns aniversarios por preguiça. não me comovi com o discurso de dor de ninguém. caí dentro do meu próprio umbigo e me arrependi de nunca tê-lo lavado bem. seria injusto a essa altura não dizer que eu nunca fiz uma carta suicida. que depois de um certo cansaço, você não tem mais nada para dizer. e não tem nada a ver com sorvete, borboleta, relógio, fado. querer dormir quando se tem uma insônia é muito mais parecido com a vontade de se matar que qualquer outra metáfora. é só dormir. sem verso, sem razão, sem preparo. às vezes a gente cansa de ter a pálpebra transparente e a pele ácida. ninguém fica perto muito tempo. é diferente pra nós e pra eles, o tempo. e ai ter que fingir fingir. mas a gente falha. e o apartamento pequeno é grande demais para ser inundado pelo gás. mas vc acha que morreu. e dorme. sem carta. aí vc acorda. e tudo bem. porque você conseguiu dormir e o tempo continua passando esquisito. mas tudo bem. você consegue dormir. tudo bem. tudo bem.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Eu nunca direi isso. (matriz)
Antes de me matar eu não queria dizer mas a gente sempre acaba perdendo o meio do caminho e se vê obrigado a catar as migalhas de palavras que ficam pelo chão. Eu só queria deixar muito claro que eu não o encontrei. O chapéu. Não pelo chapéu, mas pelos minutos que acabam por se transformar em horas, dias, anos, tempos, e.... Eu fracassei com os relógios. Queria ter me tornado aeromoça, só que me esqueço nas ordens e tropeço, e digo "é engano",gosto da paisagem de cima. Não suporto continuar aqui com a ideia de que sempre terão pessoas apertadas em um metrô a todo o momento.Tenho claustrofobia desde pequena e a superfície agrada até o momento que percebemos a existência dela. Silenciosa. Grande.Aí fico tentando ir cada vez mais fundo, mais fundo, me afogo nas esperanças de um dia conseguir tocá-la.
Antes de me matar eu queria dizer que mesmo sendo proibido alimentar os animais, até mesmo viajar com eles, eu a alimentei de expectativas frustradas que amargaram ainda mais com o tempo e agora ela está prestes a me vomitar e me deixar esfriar....... boiando.
Antes de me matar eu queria dizer que mesmo sendo proibido alimentar os animais, até mesmo viajar com eles, eu a alimentei de expectativas frustradas que amargaram ainda mais com o tempo e agora ela está prestes a me vomitar e me deixar esfriar....... boiando.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Antes de... e queria te dizer ....
É.. desde criança eu pensava ter visão de raio-x e isso agora parece não servir pra nada. Os colos, as manhas, as brigas, as tardes de Sol na praia, o sorvete de creme com brownie, a segurança, as mãos dadas, os olhares. Tudo, todos. Distantes agressivos e engraçados. Não lembro de grande parte dos amores que tive, das dúvidas que tive, das crises que tive, das tartarugas que tive, das espinhas que tive, dos filhos que tive provavelmente agora também já não importam. Queria mesmo ter ficado com aquele cara apesar de todo mundo dizer eu merecia melhor. Eu não sei não. Ele parecia bom. Bem bom. Queria mesmo era ter arriscado menos, ou mais ou... Queria ter escolhido mais. Queria não ter escolhido. Poder escolher tudo... Queria transbordar alguma vez, queria explodir, ser totalmente transparente, translúcida e azul tudo ao mesmo tempo girando no ar.. Enquanto isso as pessoas em volta de mim iam esquecendo pouco a pouco tudo o que já tinham vivido, cada pequena informação, cada segundo de toxina mental, cheiro, textura, palavra e voltariam a ser seres silenciosos, espontâneos e burros, ignorantes mesmo. E nesse momento eu explodiria com um grito que seria assim como um canto, um gemido ou algo que ecoasse macio e lento... Poderia ser um fado também. É. Um fado. Depois disso eu não existiria mais, nem ninguém, nem as personalidades, as notícias, os gostos, as lojas, as conversas, os "bom dia!"s, as ambições, as culpas, os pesos, iriam todos comigo. Inclusive não sobraria nem quem pudesse contar essa história depois e fazê-la virar lixo de novo. Não, eu não cairia nesse risco. Eu vou afogar tudo isso comigo, em mim e não vou ser notícia pra ninguém. Não ia sobrar nem a espuma branca no mar negro nem o mar branco no céu... Como é mesmo? Tô apagando os afetos pra lembrar das notícias. Era isso, na verdade. Se alguém perguntar por mim, você diz que eu não to? Que eu nunca existi.
antes de me matar eu queria te dizer, te agradecer, obrigada. ( NAOOO)
antes de me matar eu queria te dar um beijo de baleia. ( NAOOOO)
antes de me matar eu queria tomar um banho quente e ficar um tempo enrolada na toalha. (NAOOO)
antes de me matar eu queria cantar pra alguem dormir. ( NAOOO)
antes de me matar eu queria que a pequena cantasse.
Antes de me matar eu queria te dizer que vc nao me conhece.
Apesar de ja me ter segurado no colo e cantado alguns parabéns pra vc.
A sua mentira e a sua doença me mataram um pouquinho a cada dia.
Morro com um vale presente seu na bolsa. Vale um CAVALO.
Nunca troquei pq nunca tive onde amarra-lo.
Vc nao me conhece mas me agrada.
Antes de me matar eu queria te dizer que nao teve um dia que eu nao pensei em vc.
Que nao senti o seu cheiro.
A sua falta.
Que se fiquei até agora foi pq contigo aprendi sobre as fendas, as brechas, as pisadas falsas.
Antes de me matar eu queria te dizer que o teu sinal foi certeiro.
Que a sua dança conduziu a minha ponta de pé.
Que tudo o que eu tenho aqui é seu. NADA.
Antes de me matar eu queria te dizer que é dificil dizer, porque é presente e o futuro nao vai ter entao talvez vc já saiba.
Antes de me matar eu queria te dizer que nunca te entendi totalmente.
Que nunca fui no teu fundo.
Que sempre vi suas caras e que so isso ja me fazia crescer.
queria te dizer que esse foi o encontro mais lindo.
A força mais estranha.
A certeza mais bruta.
O escuro mais claro.
e que nada disso tem a ver com vc.
PS: o que acontece com os nervos?
e com as borboletas?
o problema das arvores e da politica me transformam numa vaca nervosa. Sentada de vestido, tomando com canudinho, esperando sua vez de ser abatida. ( NAOOOO)
PSS : ta muito confuso mas se eu for mais racional, fico parada aqui com esse guarda chuva ate o tempo mudar. ( NAOOOO)
desculpa nao consigo mais nada.
antes de me matar eu queria te dar um beijo de baleia. ( NAOOOO)
antes de me matar eu queria tomar um banho quente e ficar um tempo enrolada na toalha. (NAOOO)
antes de me matar eu queria cantar pra alguem dormir. ( NAOOO)
antes de me matar eu queria que a pequena cantasse.
Antes de me matar eu queria te dizer que vc nao me conhece.
Apesar de ja me ter segurado no colo e cantado alguns parabéns pra vc.
A sua mentira e a sua doença me mataram um pouquinho a cada dia.
Morro com um vale presente seu na bolsa. Vale um CAVALO.
Nunca troquei pq nunca tive onde amarra-lo.
Vc nao me conhece mas me agrada.
Antes de me matar eu queria te dizer que nao teve um dia que eu nao pensei em vc.
Que nao senti o seu cheiro.
A sua falta.
Que se fiquei até agora foi pq contigo aprendi sobre as fendas, as brechas, as pisadas falsas.
Antes de me matar eu queria te dizer que o teu sinal foi certeiro.
Que a sua dança conduziu a minha ponta de pé.
Que tudo o que eu tenho aqui é seu. NADA.
Antes de me matar eu queria te dizer que é dificil dizer, porque é presente e o futuro nao vai ter entao talvez vc já saiba.
Antes de me matar eu queria te dizer que nunca te entendi totalmente.
Que nunca fui no teu fundo.
Que sempre vi suas caras e que so isso ja me fazia crescer.
queria te dizer que esse foi o encontro mais lindo.
A força mais estranha.
A certeza mais bruta.
O escuro mais claro.
e que nada disso tem a ver com vc.
PS: o que acontece com os nervos?
e com as borboletas?
o problema das arvores e da politica me transformam numa vaca nervosa. Sentada de vestido, tomando com canudinho, esperando sua vez de ser abatida. ( NAOOOO)
PSS : ta muito confuso mas se eu for mais racional, fico parada aqui com esse guarda chuva ate o tempo mudar. ( NAOOOO)
desculpa nao consigo mais nada.
Para Inês, antes de morrer
Antes de morrer, queria mesmo é saborear um bom sorvete de tapioca olhando daqui mesmo, pra essa paisagem que eu escolhi. Traria comigo, para trocar, o livro que fiquei na dúvida se ela já teria, ou gostaria, ou já teria lido, ou não. Apagaria da memória dedicatórias esquecidas. Crônicas. Fados. Contos. Viagens. Melodias. Harmonias ausentes. Dores pontiagudas. Náuseas. Quereres que me tornavam apática diante dessa multidão de um milhão de solitários carregados de maquiagem, da aparência que eles me provocavam. Ah, eu teria sido e vencido outros, ruínas que eu mesma construí pra mim, e que hoje eu não colocaria sequer a mão na areia que já se mostrava movediça desde o início. Mas o tempo é tempo, esmagado ou não, ele passa, eu passo e talvez ele não me permita realizar tudo isso, antes de morrer. Se ele me permitir, ainda assim, morro INÊS.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Compondo Rory.
- Permanecer nas escadas, cantar ou realizar pregações religiosas, danificar ou sujar as embarcações, viajar com animais ou com trajes de banho. ( acende um cigarro e sorri)
*coreografia "o sorriso de Rory"
- (dando-se conta) Ah...eu tenho que contar, né? Todo mundo chegou aqui e contou. Tripulação...oito, capacidade por passageiro.... dois mil, sentados são mil e trinta e cinco, em pé novecentos e sessenta e cinco. Dois mil e oito coletes salva vidas, duzentos de criança. Seis bóias, aparelhos flutuantes....doze , ALI! 1,2,3 ali,ali,ali 4...5. 5 olhares que se multiplicam dessa posição. 6, ALI,ALI. Sete, eu não posso perder nenhum. 8,9 aquele que olha mas finge que não olha. DEZ, DEZ(confunde as palavras e as ordens) desculpa. (cai e ri) eu espio pra fingir que eu não olho. 11, 12,13 (cai e ri) ali, 14,15 ali, desculpa, deixei cair meu pensamento. (gira e repete as informações de forma desconexa até tomar consciência de si)
- Ihh...A gente nem se conhece. Desculpa. Ai, que exposição desnecessária.... A gente nem se conhece...Eu juro que eu vou sumir, eu juro. Desculpa ,que foi que eu fiz... viver é tao constrangedor e tudo que a gente menos quer dizer fica estampado entre a perna empapada e o azul. Eu nem fumo na verdade. (apaga o cigarro sem graça)
* coreografia livro. (até explodir e pegar a maça)
- Eu tenho uma coisa pra falar. Ei! Eu preciso dizer uma coisa que eu comecei a pensar nos últimos minutos. (comendo a maça) Tudo que eu não sei falar inclui esse entre. Eu não sei o que eu estou fazendo aqui se eu odeio esse lugar. Fico pensando nessas coisas. Ai uso o esbarrão para tentar quebrar algo que não sei como se fabrica mas as desculpas me atropelam anulando o ato. Eu queria aprender a não pedir desculpas mas essa coisa premeditada da alegria é muito decadente... Tem um homem aqui, o francês, ele é muito espaçoso e usa uns sapatos enormes. A mulher dele, coitada, é obrigada a lavar todos os dias as barcas ouvindo desaforos diários. Ela consegue ser mais irritante quando esta bem-humorada. O nome dela é Inês porque perdeu toda a cor no mar. Ela era ruiva e deixa tudo , ate a morte , com cheiro de maça verde. Ai todo mundo se banca, se esbarra, se bica, se beija, sinteco. E isso porque são 40 delas soltas pela cidade, 40 delas enquadradas no metro, 40 delas dando bom dias na padaria e quarenta aqui, se esbarrando. Mas de quem eu tenho mais pena mesmo é da pequenininha....tadinha.
- Não vale o que imaginamos e muito menos sorrir desse jeito pra cobrir o silencio que sempre fica e por isso sejamos concretos, ó bancos, cimento, ferrugem. bolsa, cigarro, veja multi uso maça verde, sapato. O azul se espalha pela barca impossibilitando a busca por outras distrações e todo mundo prefere ficar de olho no meu... Ai eu espio. Eu espio porque é culpa dele. Do azul.
- Eu estava chorando porque era mais fácil do que rir, mas não traria diferença era só agua da baia com derramamento de óleo. Eu estava parada, de olhos fechados, tentando me equilibrar e ouvi uma baleia passando. Nem tao fria que parecesse cínica, nem tao perto para ficar cega. Eu fiquei ali, esperando que a baleia me engolisse, no auge da sua crueldade, ela foi embora e me deixou vivendo. Eu só lembro do barulho do meu estomago.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
COMPOR OU REVELAR?
ELE – COMPOSIÇÃO DE BALEIA
Eu queria começar dizendo que eu encontrei três certezas no
processo de ‘’construção’’ dessa composição: a primeira é que não há ninguém
mais observador do que eu nesse mundo, só Deus, assim mesmo é páreo duro, Ele
leva vantagem pela onipresença; a segunda é que não há ninguém mais
transparente do que eu, só a Baía de Guanabara mesmo; e a terceira é que não há
ninguém mais sonso do que eu, só mesmo vocês, audiência, público presente.
Então me foi dada ou dada por mim a função de controlar essa
história. E aí que eu não to sabendo governar esse troço. Mas como eu sempre
preferi a ciência e seu jogo de certezas que variam aos dramas e seu terreno
baldio e frágil, eu não quero desistir antes da hora de fracassar
completamente.
Vamos trabalhar, durante a travessia, com livre arbítrio
(vai ter), (vai ter) destino, (vai ter) universo (vai ter), acaso, conspiração
(vai ter), (vai ter) karma, coincidências (vai ter) muitas, causa e efeito,
lógica (vai ter), dança de um passo depois do outro (já me faz lembrar o
pensamento que tive ao olhar para os pés da Ana enquanto ela andava a minha
frente naquela noite).
Até ontem eu tava pouco satisfeito com o processo de compor,
então resolvi radicalizar um pouco a minha estratégia e correr atrás da ficção,
já que ela tava fugindo de mim. Ou seja, peguei a barca e me propus o desafio
de encontrar uma Ana, uma Inês e uma Rory e travar um pequeno diálogo banal,
superficial e revelador, provocando de alguma forma uma apresentação por parte
delas. Para cada uma delas eu usei uma desculpa sedutora.
A primeira que eu encontrei foi Ana, logo na primeira
viagem, e olha que feliz coincidência: vocês lembram aquela faxineira
maravilhosa, negona, que eu registrei daquela vez, pegando sol enquanto
trabalhava? Pois é, chama-se Ana. Abordei-a, perguntei seu nome, conversamos um
pouco e ela me pareceu ser bastante simpática, expansiva, autêntica, bem solar
mesmo. Ficamos íntimos com pouquíssimo tempo de viagem. Dei um abraço forte
nela. Aí ela me confessou que há uns meses, ela estava na casa dela e que,
normalmente, apesar desse jeitão pra fora, ela reclama quando as pessoas vão
abraçá-la, fica falando para soltá-la e tal. Mas sempre tem uns dias que ela
fica carente e começa a agarrar todo mundo. Aí nesse dia ela tinha dormido a
tarde toda e quando era 1h da manhã ela tava super acordada e inventou que
àquela hora ela tinha que acordar todo mundo da casa e ficar abraçando,
puxando, ficou pulando de um lado pro outro dizendo que as pessoas tinham que
conversar com ela. Óbvio que os parentes ficaram meio revoltados com ela, mas
no fundo eles gostam.
Depois veio Inês, era uma madame de taiêr, síndica do prédio
onde mora. Ela era mais caladona, meio enigmática assim, me instigou bastante.
Mas a única coisa que eu consegui descobrir dela, nas poucas palavras que
trocamos é que a primeira coisa que ela diz quando acorda é: ‘’quero comer’’.
Ela adora tomar café da manhã com ovos mexidos.
A mais difícil de encontrar, claro, foi Rory. Na verdade eu
me contentei a achar uma Elisa, Rory não rolou. Elisa falava muito, era nova,
usava óculos e era estudante, voltava do Pedro II. Praticamente abriu sua vida
pra mim, eu quase não disse uma palavra e ela vomitou em cima de mim, sem pedir
desculpa. Disse que tem mania de roubar as calcinhas da irmã; que foi expulsa
do balé porque deu um soco na cara de uma coleguinha que dedurou ela pra
professora; deixa papel de bala, chocolate, biscoitinhos e outros pequenos
lixos que ela usa acumularem rumo à eternidade dentro da mochila; sempre teve o
hábito de escrever diários; tem insônia; quando dorme, é com a bunda pra cima e as
pernas dobradas, parece um fusquinha; tem problemas com a altura de vez em
quando; e se apaixonava por todo mundo na infância e hoje em dia se faz de
difícil e distanciada pra não se machucar. Eu tive que forçar uma despedida,
pra ir embora.
Foram 17 viagens, das quais eu só paguei 11, o que me dá uma
economia 28,80. Prejuízo neles. 6 bilhões 973 milhões 738 mil 433 trocas de
olhares humano-máquina, o que inclui celulares, computadores, motores e rampas
de acesso. 22 milhões de pelos esquecidos no trajeto, 60% de cabelos alisados e
40% de cabelos in natura. Cerca de 100 mil trocas de olhares entre humanos e
700 milhões de suspiros ansiosos pela chegada. 1974 tabuleiros de pães de
queijo preparados para o deleite 815 mil clientes famintos. 2000 litros de mate
gelado, sem limão. 14,5 minutos de atraso, à deriva, esperando a passagem de um
transatlântico norueguês. 100 mil fotos postadas com a frase: ‘’ERA SÓ O QUE
FALTAVA’’. 40 funcionários exemplares tentando acalmar as senhoras
incapacitadas. 2.250 palavras possíveis de serem ditas na despedida. 85 mil
bicicletas dobráveis. 80 por cento de coletes salva-vidas empoeirados. 100
bengalas presas entre a embarcação e o cais. E, claro, 22 anos, 22 dias, 11
horas e 55 minutos ou 695 milhões 733 mil e 900 segundos de observação de mim
mesmo me afastando de mim.
Não bate palma que ela não gosta de barulho quando tá
amamentando os filhotes.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
quinta-feira, 25 de abril de 2013
registro das barcas
não consegui pegar muitos momentos, ficava correndo de um lado para o outro para tentar registrar todos, mas fiz esse registro mais para que as imagens ajudem vocês na composição e para curtir um climão, né, gentch! ninguém é de ferro
domingo, 21 de abril de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
rascunho
Dramaturgia criada em processo:
O projeto de construção da peça “Baleia”, surgiu como continuação de uma pesquisa iniciada em 2011 com a montagem da peça: “Ucrânia 3”. A pesquisa consiste na criação de dramaturgia autoral inserida no processo e na metodologia dos ensaios. Descobrir e construir a ficção, faz parte do processo. Desde 2011 o grupo de artistas, maior parte graduandos do curso de teatro da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), buscam: criar metodologias e uma linguagem teatral que contempla a criação de dramaturgia autoral; um funcionamento colaborativo do teatro; diluir as fronteiras dramaturgia/ cena, para se retroalimentarem na produção do texto e do espetáculo. Um processo com dois resultados.
Para que a dramaturgia caminhasse junto com a cena foi necessário um primeiro momento com muita pesquisa e poucos ensaios. Entre o período de agosto de 2012 a fevereiro de 2013, a partir de oito ensaios com os atores, a direção em conjunto com a dramaturgia, elaborou um olhar específico sobre as relações estabelecidas entre eles. Ficcionalizar a sala de ensaio foi a primeira parte de processo, e para isso foi preciso buscar referências externas (peças, romances, textos teóricos, filmes, vídeos...), associar o que foi criado nos ensaios com o mundo, para depois, recomeçar com um esboço de ficção.
A primeira referência do processo foi a frase do Caetano Veloso: “Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína” da música “Fora da ordem”. A frase é usada e citada em outros trabalhos artísticos, como uma série de fotos de João Castilho com mesmo nome, que registra construções abandonadas no Mali, África Ocidental : “É uma metáfora do terceiro mundo onde as tentativas e os desejos são sempre abortados.”. A imagem de um espaço que é abandonado antes mesmo de construir uma história, finalizar sua arquitetura, sugeriu para a dramaturgia de “Baleia” uma pesquisa com a superficialidade dos encontros casuais, com situações de encontros na multidão: um esbarrão, um cumprimento, “dá licença, por favor”. Trajetórias individuais que se esbarram no meio do fluxo cotidiano, mas retornam à sua individualidade. Histórias que são imaginadas e não se concretizam, não passam do início: o sujeito prefere vivê-las com segurança, como ideias em ruína.
Os ensaios começaram em fevereiro de 2013, e atualmente.................
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Não vá ainda. Inês?
Dezembro. Manhã de um dia comum. Pego a barca no contra fluxo. Barca nova, de janelas pequenas, donde mal se vê o mar. Há quatros
janelas maiores, duas em cada extremidade.
Dirijo-me para a janela que está de frente para Niterói,
vejo o mar e me lembro de uns versos que dizem: 'quando morrer, voltarei para
buscar os instantes que não vivi junto do mar'. Numa fração de segundos sou
interrompido por uma mulher bem baixa, negra, com sotaque paulista forte,
perceptível nas duas palavras ríspidas trocadas comigo, “dá licença!”. Sem
entender bem o que acontecia, me afastei da janela, ela puxa um dos coletes
salva-vidas, que se encontrava de baixo de uma das poltronas, para usar como
apoio para o salto que ela pretendia dar pela janela. Meio patético, lembrando
agora. Tudo se deu muito rápido. Quando percebi, ela estava apoiada na janela,
agarrei-a pelo braço e disse que não iria deixa-la fazer aquilo. Falei mais
umas duas ou três frases cafonas; as pessoas viram aquela mulher pendurada na
janela, começaram a gritar, seguranças e curiosos juntando-se em volta de nós,
e ela enlouquecida com o coito interrompido. Ela, a do suicídio brochado,
gritava que estava no Rio de Janeiro há oito meses e não conseguia trabalho,
que estava dormindo na rua, que tinha uma filha, e eu fui me afastando, saindo
do foco daquela cena, observando de longe, com meu braço arranhado por ela.
Passei dias pensando naquela mulher, e no que teria acontecido depois. Teria
ela pego outra barca e realizado sem interrupções seu ato? Teria ela escolhido
outro modo de se mostrar senhora de si mesma e dado um tiro na cabeça? Tomado
chumbinho comprado na Carioca?
Eu se fosse ela, teria escolhido a pedra do Arpoador num
nascer de sol, sem ninguém para impedir. Ou, buscando uma morte pública e tão
certeira quanto um tiro na boca, correria de encontro a um metrô chegando na
estação na hora do rush.
(Caso contado por Mauricio Lima)
quinta-feira, 11 de abril de 2013
primeiro exercício de escrita do projeto
Fatos e situações que
por coincidência ou não, se repetem num mesmo espaço: a barca. A
barca é da antiga e gira para seguir seu destino, deixando o rastro no caminho,
que risca o mar preto com a espuma branca e o céu branco com a fumaça preta.
Tudo nela conduz ao passado; das cadeiras azuis ''reformadas'' com os braços de
madeira, que, descascando, denunciam a ruína, até as janelas guilhotinas, tão
generosas com a brisa que invade.
A
barca é por essência transição, caminha do passado para o futuro e apesar de
sua estrutura concreta, aceita a instabilidade da água: se desloca à deriva no
meio do caminho, entre a origem e o destino. Uma cidade que já virou ruína tem
uma construção viva, nadando na baia de lá para cá.
A peça acontece na medida em que quatro
personagens (Inês, Rory, Ana e ele) se reconhecem no meio da multidão
característica de lugares de transição, e passam a buscar sentido próprio nos
encontros circunstanciais, na percepção do outro. Inês, Rory, Ana e ele são
seduzidos pelas pequenas coisas desse pequeno trajeto e assumem um olhar
particular. Um homem e três mulheres. Três mulheres e um homem.
Quatro pessoas. Quatro possibilidades de trajetória. O tempo é o percurso, a
espera. O espaço é a barca. A ação é o encontro.
O ínicio da dramaturgia
é marcado pela obsessão do personagem masculino em construir uma história com
três mulheres que percebe num dia de viajem de barca. A partir desse pontapé,
dessa percepção inicial, os encontros e reencontros das mesmas pessoas constroem
a ficção.
No meio da dispersão do cotidiano
metropolitano o encontro, acaso ou coincidência, necessita de um sentido
individual e próprio. O individuo entra num processo de espiral na tentativa de
entrar no próprio umbigo de certezas. O
processo de espiral acontece nas personagens obsessivas por sentido,
que depositam expectativas e desejos em objetos aleatórios, e na dramaturgia
que como uma bola de neve, acumula até explodir. O jogo é somar os fatos,
transbordar os sentidos e nunca (ou quase nunca) sair do superficial.
Primeiro Amor
Ele chegou de mansinho e se apaixonou por mim sem que eu
soubesse ou percebesse. Desejou-me em silêncio por um tempo, até que um dia
resolveu pegar uma serra insana para chegar mais perto. Na primeira noite
dormiu bem pertinho, a mais ou menos um metro de distância e quase me roubou um
beijo de ‘’boa noite’’. Na segunda noite dormiu ao meu lado. Dormiu mesmo,
rápido e ligeiro, a ansiedade o fez capotar. Mas me fez perder o sono. Eu não
conhecia a insônia. Uma tremedeira nunca antes vivida me tomou corpo e alma
madrugada adentro. Era uma paixão sintomática mostrando sua força física. Eu me
concentrava para tremer menos com receio de acordá-lo, mas ele se mexia e
brincava de se aproximar do meu corpo: era quando eu tremia mais. Acordados, depois dessa noite, ficamos
insones durante quase um ano. Nesse tempo eu conheci, reconheci, estranhei,
confundi, imaginei, planejei, presenciei, contemplei, gozei, abracei, cantei,
só não dormi. Sonhamos muitos. Não sei bem se foi um prego, uma devolução, uma
contramão, uma mesa gigante que nos separava mesmo aproximando nossos braços
sem fim... É claro que não. Hoje nós voltamos a dormir em paz, e a tremedeira
também foi convidada a pegar no sono, na companhia de dois corpos que trovoaram
e dois peitos que relampejaram um amor inevitável, como toda estação que se
preze. Ainda que o tempo nos cubra com a terra, o desejo de não perder o sono
permanecerá. Preocupamo-nos muito com o sono um do outro. Queremos nos acordar
qualquer dia. Hoje, antes de dormir, nós voltamos para assistir ao bloco. Nós
dois. Hoje o bloco saiu mais triste sem
ele, agora tá faltando um. É que o outro precisava nascer.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Cena 4 e 5(em construção)
CENA 4
A luz revela Rory, que observava tudo. Interrompe a intimidade de Victor e Ines. Silencio. Rory desce do andaime. Momento de aprofundar a superficialidade, que sai dos diálogos e vai para o corpo. Instabilidade da barca. Coreografia Inês, Victor e Rory. Ana continua dormindo atrás do banco.
Rory aumenta a coreografia brincando de se desequilibrar com a instabilidade da barca. Ines e Victor param, constrangidos e sentam. Rory gira e tenta agarrar o ar com a mão.
Inês: Nossa.
Ele: Será que ela não devia estar com os pais?
Inês: acho que ela é incapacitada.
Ele: Que chato.
Inês: Ai, tá me irritando
Ele: Que chato.
Rory, com o tempo, vai perdendo o controle e a tonteira vai lhe dando enjôo. Inês e Ele continuam falando entre si.
Rory: Ajuda aqui por favor. To meio instável.
Inês: Ai, que saco
Ele: Fica rodando, dá nisso
Rory cada vez mais desequilibrada, as pernas moles. Ele se posiciona do lado Direito da cena, protegendo uma saída para a coxia. Grita quando Rory se aproxima.
Ele: ESPAÇO RESTRITO! CASA DE MÁQUINAS! ESPAÇO RESTRITO!
Ela: Ali. Ela tá perto da minha bolsa! To desconfortável.
Rory finalmente consegue se segurar em um banco e senta. O rosto enfiado no pescoço prestes a vomitar.
Inês: Roubaram minha bolsa! Ali! Sumiu! Roubaram minha bolsa! Foi o homem!
Rory. ninguem roubou sua bolsa! essa bolsa era do homem. eu vi ele empacotando
Ines: tava aqui do meu lado. era minha.
Rory: aquela era dele
Ines: por que eu não posso ter uma bolsa? Ai, meu Deus. Alguém me ajuda. Minha bolsinha. Ai!
Ana acorda e sai de trás dos bancos.
Inês para Ana: Ai moça, a minha bolsa. Tava aqui e a menina ficou tonta e eu fiquei irritada e cuidado, espaço restrito! E de repente não tava mais e tinha um homem grande. Eu quero uma bolsa!
Ana: Calma aí. Tenho certeza que não foi muito longe, né. Tava aqui descansando, vamos procurar aqui, tinha nada que ter soltado a bolsa, embaixo não tá...
Victor: INÊS!!!
Inês: AH!
Victor: Ines! Achei sua bolsa
Ines: Ai que susto! saiu um homem daqui agora. achei que ele tinha roubado minha bolsa.
Ana: Ó, resolvido!
Ana volta para trás das cadeiras e deita.
Victor: Achei no banheiro. Tinha alguma coisa dentro?
Ines: Como assim? Claro que tinha. Sempre tem coisa dentro da bolsa.
Victor: To perguntando se dentro da sua tinha.
Ines: Claro que tinha... essa bolsa enorme! Claro que tinha! Aah, agora eu não quero andar com uma bolsa vazia
Rory segura a sacola e vomita dentro. Seu rosto desaparece dentro da sacola.
Rory: Desculpa.
Inês: Ela vomitou dentro da minha bolsa enorme.
Rory entrega a sacola à Inês. Ele pega rapidamente o colete na coxia e entra enquanto Rory sai. Ele senta ao lado de Inês.
Inês: Onde você conseguiu isso?
Ele: É meu.
Inês: Achei que fosse da barca
Ele: Não. Eu sempre trago.
Inês: Me empresta?
Ele: Não posso. Seria um risco. Imagina se afunda
Inês: Pára.
Ele: Eles não tem para todo mundo
Inês: aaaii
Ele: Vou respirar.
Ele sai.
CENA 5
(em construção)
Inês tenta respirar com calma. Começa a contar as tomadas.
Inês: 1 2 3 4 5 6 7 todos
Inês se levanta. Partitura "Inês e as tomadas".
Inês: 7 todos todos todos 7 8 todos 8 88 8 atenção hahahah ninguém. tá vendo. vocês… mas…. nós existimos enquanto 9 10. 9 10 todos aqui presente e quietos silenciosos. ninguem ve, mas sentem… a energia…. todos embaixo… nenhum em cima! ah um em cima….
um está em cima de todos, o que quer dizer alguma coisa que agora nao tem importancia. logo vai chegar um ser estranho entres nós.
Ana começa a limpar as cadeiras. Uma flanelinha aparece esfregando o banco. Ainda não se vê Ana.
Inês: continuamos silencionsos enquanto o ser estranho salta empurra pendura salta voa mesmo. assim. continuando. esse ser em cima. continuando. paramos todos os 8 9 10 e observamos. 8. silêncio. 8 9 10 silenciosos.
Inês vai para o banheiro. Ana termina de limpar as cadeiras e tenta entrar no banheiro. Força a porta. Rory entra e fica na fila atrás de Ana.
Ana: tem mesmo alguem ai?
Ines: Desculpa. Eu to saindo.
Ines canta em gromelô. Finge que está vomitando enquanto arruma o cabelo. balança. faz barulhos, alonga a língua. Ana e Rory escutam pela porta. Rory, tímida sai da fila e senta na cadeira para esperar. Ana olha pela fresta por baixo da porta. Inês abre a porta.
Ines: oi?
Ana: oi. Meu brinco caiu. Acabei de achar.
Ines: Você é a faxineira?
Ana: Aham
se cumprimentam
Ines: pode entrar
Rory corre para a porta do banheiro. Ana coloca os fones de ouvido e canta leões ao léo dentro do banheiro.
Ines: moça. desculpa. eu precisava ir ao banheiro. esqueci...
Ana: só um minutinho. já to saindo
Rory: Ah, lembrei. Achei a bolsa original
Ines: Oi?
Rory: a bolsa que foi roubada
Ines: da menina que estava aqui, né?
Rory: ah, achei que era você... você vomitou?
Ines: não, foi a pequenininha. (Para Ana) O banheiro lá de cima continua com aquele problema, né? de ventilação
Ana: pronto
Ines: desculpa. não vai dar pra fazer aqui
Ana: vc pode fechar a porta
Ines: não, eu preciso que você limpe.
Ana: ah. entendi
Ana entra e tem um surto. Rory se apoia no andaime com as pernas entrelaçadas, suando frio.
Ines: moça. vc esqueceu a porta aberta. e agora tá mais sujo
Ana: é a minha técnica
Ines: mas eu preciso que seja rápido.
Ana: meu tempo
Ines: vc não precisa ficar desse jeito. parece uma louca dançando
Ana: e você que fala com o espelho? e fica cantando? eu ouvi. não tinha perdido brinco, não!
Ines: vc fica espiando. eu vou reclamar de você
Ana: vai, reclama. eu digo pro homem que anda com vc que vc fala sozinha.
Ines: ele não anda comigo
Vitor entra.
Victor: Ooooi
Ana: Há!
Victor vai até Elisa e tenta beijá-la. Elisa se esquiva e cai em posição de chinesinho. Victor vai até Inês e cheira seu cangote. Inês tem um arrepio e balbucia palavras indecifráveis.
Victor: Ana!
Victor estende as mãos para Ana. Ana encara Vitor.
Victor: É meu aniversário!
Ana entrega a ele a flanela e a garrafinha de veja.
Ana: Limpa aí pra ela
Victor: Que preguiçosa.
Ines: Não precisa, não. Já perdi a vontade. É seu aniversário hoje?
Victor: Precisa, sim! É o trabalho dela! É o seu trabalho! Se não quiser fazer, procura outro. O que não dá é para tratar assim quem só quer usufruir do espaço com segurança e tranquilidade.
Rory levanta e corre até o banheiro. Faz barulho de xixi e alívio com a boca.
Victor: Nossa, furou a fila de todo mundo.
Ines: É, não tinha a menor necessidade.
Ana: Aí que a gente vê quem teve educacão em casa e quem não teve.
Victor: Gente, to procurando a Inês. Se vocês virem por aí.
Victor sai. Rory sai do banheiro e esbarra em Inês.
Inês - Opa, desculpa
Rory - De nada.
Inês - Machucou?
Rory - Médio. Eu gosto.
Inês - Entendi. Que pena. Eu tinha uma certa expectativa.
Rory - Não vem com esse papo pra cima de mim. (risos)
Inês - Não, é sério. Eu te vi e pensei: "ela é diferente".
Rory - De mim.
Inês - De mim.
Rory - Você é engraçada.
Inês - Eu sou bem sem graça na verdade
Rory - Pra mim você é engraçada.
Inês - Pra mim.
Rory - Pra mim.
Inês - Você mora aqui perto?
Ana - Tanto faz
Inês - Oi?
Rory - E você é?
Ana - Eu sou só isso aqui mesmo.
Rory (para Ines) - Acho que ela é Inês.
Inês - Ah, eu ouvi alguma coisa do tipo.
Rory (para Ana) - Você é daqui, então?
Ana - Defina daqui
Inês - Daqui é daqui. Daqui desse lugar. Daqui.
Ana - Gerada, concebida, nascida, crescida e envelhecida nesse metro quadrado daqui? Parece desesperador.
Rory (para Analu) - Eu acho que já te odeio.
Ana - Nossa
Inês - É, nossa!
Rory - Nossa o que?
Inês - Nossa o que o que? Só Nossa.
Rory - Porque "nossa"? De onde vem isso? Nossa?
Ana - Nossa, de alguma coisa que pertence a nós. É como culpar toda a humanidade pelo erro de um.
Inês - Acho que é só Nossa. de Nossa Senhora.
Rory - Que senhora, gente? Que senhora é essa?
Ana - Inês! Será?
Inês - Ah, então você não é Inês?
Ana - Eu? Não.
Inês e Rory - Pena
Ana - É, que pena. Bom, desculpa...
Inês - É, a gente tinha uma certa expectativa.
Ana deita atrás dos bancos. Rory sobe no andaime e Inês em pé ao lado das cadeiras, descasca a madeira.
Rory para a coxia: QUE? NÃO TO TE OUVINDO! QUE?
Inês: Tá perguntando que ônibus ela tem que pegar.
Rory: Ah! Fala pra ela pegar o onibus 234
ines grita para a coxia: falou pra vc pegar o 434
rory: diz pra ela não esquecer de levar o brigadeiro
ines grita para a coxia: levar o brigadeiro
rory: esquecer de levar
ines grita para a coxia: esquece de levar!
rory: não!! é pra NÃO esquecer!
ines grita para a coxia: não esquecer de levar o brigadeiro!! No 434!
Rory: Tem que levar antes!
Ines grita para a coxia: Lava antes, hem!
Rory: Que isso! não é pra lavar o brigadeiro!!
Inês grita para a coxia: é pra você lavar o ônibus!
rory: droga. vou ter que voltar
Victor arrasta o banco e exibe Ana dormindo escondida. Ana logo se recompoe com a cara toda amassada, e um sorriso falso.
Victor: engraçada essa coisa de vc trabalhar em um lugar e deixar claro para todo mundo que não gosta de trabalhar aqui
Ana: eu...
Victor: EU gostaria de tratar bem as pessoas. EU gostaria de ter compatencia
Ana: EU queria um incenso. vc tem? Tava procurando aqui atrás...
Victor: vc trabalha aqui.... devia me dizer que eu não posso entrar com coisas que pegam fogo
Rory desce do andaime.
Rory: uma senhora vomitou o banheiro inteiro pq ficou enjoada com esse cheiro de maçã verde.
Victor: estou reclamando da conduta dessa funcionaria ha tempos. ligo para o SAC e falo dessa funcionaria. a gente paga caro...... vc é digna de pena
Ana: vcs deviam pegar esses 4,50 e enfiar no cu
Rory: nossa. Aí que a gente vê quem recebeu educação em casa e quem não recebeu.
Inês: Vocês tão exagerando! Ela é ótima!
Ana: Brigada!
Inês: Me ajudou a achar meu brinco, já! Achar minha bolsa.
Victor: Como você perde coisa! Engraçado que eu nunca te vi com nada!
Rory: Ele é bem observador
Ana: Vou trabalhar!
Diálogo victor e rory
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