fragmentos do trabalho de João Castilho

quinta-feira, 30 de maio de 2013

antes de nao me matar

falhei com os prazos. demorei demais para escolher um meio. não dei conta de vocês. não consegui que ninguém se apaixonasse por mim, nunca. reprovei a sétima série. não fui a alguns aniversarios por preguiça. não me comovi com o discurso de dor de ninguém. caí dentro do meu próprio umbigo e me arrependi de nunca tê-lo lavado bem. seria injusto a essa altura não dizer que eu nunca fiz uma carta suicida. que depois de um certo cansaço, você não tem mais nada para dizer. e não tem nada a ver com sorvete, borboleta, relógio, fado. querer dormir quando se tem uma insônia é muito mais parecido com a vontade de se matar que qualquer outra metáfora. é só dormir. sem verso, sem razão, sem preparo. às vezes a gente cansa de ter a pálpebra transparente e a pele ácida. ninguém fica perto muito tempo. é diferente pra nós e pra eles, o tempo. e ai ter que fingir fingir. mas a gente falha. e o apartamento pequeno é grande demais para ser inundado pelo gás. mas vc acha que morreu. e dorme. sem carta. aí vc acorda. e tudo bem. porque você conseguiu dormir e o tempo continua passando esquisito. mas tudo bem. você consegue dormir. tudo bem. tudo bem.

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