fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 19 de junho de 2013

fim de partida


Eu não queria desistir antes da hora de fracassar completamente. Gosto do fracasso com gosto de maresia, subindo pela barriga da baleia como lodo. Cheirando a merda e livre arbítrio.
Tenho três argumentos. O primeiro é que não há ninguém mais observador do que eu nesse mundo, só Deus, assim mesmo é páreo duro, Ele leva vantagem pela onipresença; o segundo é que não há ninguém mais transparente do que eu, só a Baía de Guanabara mesmo; e o terceiro é que não há ninguém mais sonso do que eu, só mesmo vocês.
Resolvi radicalizar um pouco a minha estratégia.
A barca é da antiga e atrasou um minuto. Ela gira. Segue 899 destinos, deixando o rastro no caminho, que risca o mar preto com a espuma branca e o céu branco com a fumaça preta. 
Tudo nela conduz ao passado; das cadeiras azuis ''reformadas'' com os braços de madeira, que, descascando, denunciam a ruína, até as janelas guilhotinadas, tão generosas com o vento que invade. Do lado esquerdo, alguns projetos não realizados. Do direito, dezenas de motivos para o vôo. Coletes laranjas no alto. É proibido fumar.
Seu design 3542 veio de Nova Orleans, USA, em 1950. Uma cidade que já virou ruína tem uma construção viva, nadando na baia de cá. 
Pequenos lixos se acumulam rumo à eternidade dentro da mochila. Desculpa ter que forçar uma despedida. Eu queria ter entendido tudo isso um pouco mais que nada.
A treva está deixando de ficar atraente. E Ele, fracassado, não sabe mais se pode contar com a faxineira ruiva, a suicida apaixonada, a filha querida dos pais, o estudante, a deprimida, a dançarina, a síndica do prédio, o músico, a que rabisca, o gentil colaborador… 
Enfim. Chego. Sou levado a crer que há construções nada construtivas e ruínas pouco arruinadas. Tudo segue uma ordem. E nós… não passamos de 0 e 1.

Não bate palma que ela não gosta de barulho quando tá amamentando os filhotes.

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