fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 19 de junho de 2013

primeiro corte


então o homo habilis criou a roda em que o hamster fica girando. girando. girando. girando... olha... falhei com os prazos. demorei demais para escolher um meio. errei a soma. reprovei a sétima série. fiz escolhas demais. tive muitas opções. não fui a alguns aniversarios por preguiça. fugi do meu exame de próstata. não me comovi com o discurso de dor de ninguém. desculpa, hem. um homem tem um orgasmo, uma mulher espera. um ritual de encarnação. o contorno das unhas sangram. Ninguém em pé na rua. os relógios foram trocados pela ansiedade das pernas. tec tec tec. um morto-vivo, sem nenhuma razão para existir a não ser provocar um acesso de cólera, numa cega que esbarra e cai por cima do corpo putrefato. caí dentro do meu próprio umbigo e me arrependi de nunca tê-lo lavado bem. uma gargalhada e o metrô vai embora. um elevador fogueteia. mãos suadas puxam a corda. a máquina não pode parar se não a cidade implode. a babá deixa o próprio filho e atravessa a baía pra cantar para o filho de outra. qual dos motivos eu escolho para ficar no meio do caminho? a pele é só superfície. seria injusto a essa altura não dizer que eu nunca fiz uma carta. que depois de um certo cansaço, você não tem mais nada para dizer. e não tem nada a ver com sorvete, borboleta, relógio, fado. querer dormir quando se tem uma insônia é muito mais parecido que qualquer outra metafora. é só dormir. sem verso, sem razão, sem preparo. cicuta e mel em 2 goladas e meia. pensar em 3 razões para não cuspir naquele cobertor compulsivo em cima de você. repulsão ao próprio corpo. autoflagelação. culpa cristã. vontade de trepar com o capeta. 3 pedras de carbureto. às vezes a gente cansa! de ter a pálpebra transparente e a pele ácida. uma hora todo mundo vai embora. é diferente pra nós e pra eles, o tempo. e ai ter que fingir fingir. mas a gente falha. e o apartamento pequeno é grande demais para ser inundado pelo gás. mas vc acha que morreu. e dorme. sem carta. aí vc acorda. e tudo bem. porque você conseguiu dormir e o tempo continua passando esquisito. mas tudo bem. você consegue dormir. tudo bem. tudo bem. tudo bem.

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