fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cena 4 e 5(em construção)


CENA 4

A luz revela Rory, que observava tudo. Interrompe a intimidade de Victor e Ines. Silencio. Rory desce do andaime. Momento de aprofundar a superficialidade, que sai dos diálogos e vai para o corpo. Instabilidade da barca. Coreografia Inês, Victor e Rory. Ana continua dormindo atrás do banco.
Rory aumenta a coreografia brincando de se desequilibrar com a instabilidade da barca. Ines e Victor param, constrangidos e sentam. Rory gira e tenta agarrar o ar com a mão.

Inês: Nossa.

Ele: Será que ela não devia estar com os pais?

Inês: acho que ela é incapacitada.

Ele: Que chato.

Inês: Ai, tá me irritando

Ele: Que chato.

Rory, com o tempo, vai perdendo o controle e a tonteira vai lhe dando enjôo. Inês e Ele continuam falando entre si.

Rory: Ajuda aqui por favor. To meio instável.

Inês: Ai, que saco

Ele: Fica rodando, dá nisso

Rory cada vez mais desequilibrada, as pernas moles. Ele se posiciona do lado Direito da cena, protegendo uma saída para a coxia. Grita quando Rory se aproxima.

Ele: ESPAÇO RESTRITO! CASA DE MÁQUINAS! ESPAÇO RESTRITO!

Ela: Ali. Ela tá perto da minha bolsa! To desconfortável.

Rory finalmente consegue se segurar em um banco e senta. O rosto enfiado no pescoço prestes a vomitar.

Inês: Roubaram minha bolsa! Ali! Sumiu! Roubaram minha bolsa! Foi o homem!

Rory. ninguem roubou sua bolsa! essa bolsa era do homem. eu vi ele empacotando

Ines: tava aqui do meu lado. era minha.

Rory: aquela era dele

Ines: por que eu não posso ter uma bolsa? Ai, meu Deus. Alguém me ajuda. Minha bolsinha. Ai!

Ana acorda e sai de trás dos bancos.

Inês para Ana: Ai moça, a minha bolsa. Tava aqui e a menina ficou tonta e eu fiquei irritada e cuidado, espaço restrito! E de repente não tava mais e tinha um homem grande. Eu quero uma bolsa!

Ana: Calma aí. Tenho certeza que não foi muito longe, né. Tava aqui descansando, vamos procurar aqui, tinha nada que ter soltado a bolsa, embaixo não tá...

Victor: INÊS!!!

Inês: AH!

Victor: Ines! Achei sua bolsa

Ines: Ai que susto! saiu um homem daqui agora. achei que ele tinha roubado minha bolsa.

Ana: Ó, resolvido!

Ana volta para trás das cadeiras e deita.

Victor: Achei no banheiro. Tinha alguma coisa dentro?

Ines: Como assim? Claro que tinha.  Sempre tem coisa dentro da bolsa.

Victor: To perguntando se dentro da sua tinha.

Ines: Claro que tinha... essa bolsa enorme! Claro que tinha! Aah, agora eu não quero andar com uma bolsa vazia

Rory segura a sacola e vomita dentro. Seu rosto desaparece dentro da sacola.

Rory: Desculpa.

Inês: Ela vomitou dentro da minha bolsa enorme.

Rory entrega a sacola à Inês. Ele pega rapidamente o colete na coxia e entra enquanto Rory sai. Ele senta ao lado de Inês.

Inês: Onde você conseguiu isso?

Ele: É meu.

Inês: Achei que fosse da barca

Ele: Não. Eu sempre trago.

Inês: Me empresta?

Ele: Não posso. Seria um risco. Imagina se afunda

Inês: Pára.

Ele: Eles não tem para todo mundo

Inês: aaaii

Ele: Vou respirar.

Ele sai.

CENA 5
(em construção)

Inês tenta respirar com calma. Começa a contar as tomadas.

Inês: 1 2 3 4 5 6 7 todos

Inês se levanta. Partitura "Inês e as tomadas".

Inês: 7 todos todos todos 7 8 todos 8 88 8 atenção hahahah ninguém. tá vendo. vocês… mas…. nós existimos enquanto 9 10. 9 10 todos aqui presente e quietos silenciosos. ninguem ve, mas sentem… a energia…. todos embaixo… nenhum em cima! ah um em cima….
um está em cima de todos, o que quer dizer alguma coisa que agora nao tem importancia. logo vai chegar um ser estranho entres nós.

Ana começa a limpar as cadeiras. Uma flanelinha aparece esfregando o banco. Ainda não se vê Ana.

Inês: continuamos silencionsos enquanto o ser estranho salta empurra pendura salta voa mesmo. assim. continuando. esse ser em cima. continuando. paramos todos os 8 9 10 e observamos. 8. silêncio. 8 9 10 silenciosos.

Inês vai para o banheiro. Ana termina de limpar as cadeiras e tenta entrar no banheiro. Força a porta. Rory entra e fica na fila atrás de Ana.

Ana: tem mesmo alguem ai?

Ines: Desculpa. Eu to saindo.

Ines canta em gromelô. Finge que está vomitando enquanto arruma o cabelo. balança. faz barulhos, alonga a língua. Ana e Rory escutam pela porta. Rory, tímida sai da fila e senta na cadeira para esperar. Ana olha pela fresta por baixo da porta. Inês abre a porta.

Ines: oi?

Ana: oi. Meu brinco caiu. Acabei de achar.

Ines: Você é a faxineira?

Ana: Aham

se cumprimentam

Ines: pode entrar

Rory corre para a porta do banheiro. Ana coloca os fones de ouvido e canta leões ao léo dentro do banheiro.

Ines: moça. desculpa. eu precisava ir ao banheiro. esqueci...

Ana: só um minutinho. já to saindo

Rory: Ah, lembrei. Achei a bolsa original

Ines: Oi?

Rory: a bolsa que foi roubada

Ines: da menina que estava aqui, né?

Rory: ah, achei que era você... você vomitou?

Ines: não, foi a pequenininha. (Para Ana) O banheiro lá de cima continua com aquele problema, né? de ventilação

Ana: pronto

Ines: desculpa. não vai dar pra fazer aqui

Ana: vc pode fechar a porta

Ines: não, eu preciso que você limpe.

Ana: ah. entendi

Ana entra e tem um surto. Rory se apoia no andaime com as pernas entrelaçadas, suando frio.

Ines: moça. vc esqueceu a porta aberta. e agora tá mais sujo

Ana: é a minha técnica

Ines: mas eu preciso que seja rápido.

Ana: meu tempo

Ines: vc não precisa ficar desse jeito. parece uma louca dançando

Ana: e você que fala com o espelho? e fica cantando? eu ouvi. não tinha perdido brinco, não!

Ines: vc fica espiando. eu vou reclamar de você

Ana: vai, reclama. eu digo pro homem que anda com vc que vc fala sozinha.

Ines: ele não anda comigo

Vitor entra.

Victor: Ooooi

Ana: Há!

Victor vai até Elisa e tenta beijá-la. Elisa se esquiva e cai em posição de chinesinho. Victor vai até Inês e cheira seu cangote. Inês tem um arrepio e balbucia palavras indecifráveis.

Victor: Ana!

Victor estende as mãos para Ana. Ana encara Vitor.

Victor: É meu aniversário!

Ana entrega a ele a flanela e a garrafinha de veja.

Ana: Limpa aí pra ela

Victor: Que preguiçosa.

Ines: Não precisa, não. Já perdi a vontade. É seu aniversário hoje?

Victor: Precisa, sim! É o trabalho dela! É o seu trabalho! Se não quiser fazer, procura outro. O que não dá é para tratar assim quem só quer usufruir do espaço com segurança e tranquilidade.

Rory levanta e corre até o banheiro. Faz barulho de xixi e alívio com a boca.

Victor: Nossa, furou a fila de todo mundo.

Ines: É, não tinha a menor necessidade.

Ana: Aí que a gente vê quem teve educacão em casa e quem não teve.

Victor: Gente, to procurando a Inês. Se vocês virem por aí.

Victor sai. Rory sai do banheiro e esbarra em Inês.

Inês - Opa, desculpa

Rory - De nada.

Inês - Machucou?

Rory - Médio. Eu gosto.

Inês - Entendi. Que pena. Eu tinha uma certa expectativa.

Rory - Não vem com esse papo pra cima de mim. (risos)

Inês - Não, é sério. Eu te vi e pensei: "ela é diferente".

Rory - De mim.

Inês - De mim.

Rory - Você é engraçada.

Inês - Eu sou bem sem graça na verdade

Rory - Pra mim você é engraçada.

Inês - Pra mim.

Rory - Pra mim.

Inês - Você mora aqui perto?

Ana - Tanto faz

Inês - Oi?

Rory - E você é?

Ana - Eu sou só isso aqui mesmo.

Rory (para Ines) - Acho que ela é Inês.

Inês - Ah, eu ouvi alguma coisa do tipo.

Rory (para Ana) - Você é daqui, então?

Ana - Defina daqui

Inês - Daqui é daqui. Daqui desse lugar. Daqui.

Ana - Gerada, concebida, nascida, crescida e envelhecida nesse metro quadrado daqui? Parece desesperador.

Rory (para Analu) - Eu acho que já te odeio.

Ana - Nossa

Inês - É, nossa!

Rory - Nossa o que?

Inês - Nossa o que o que? Só Nossa.

Rory -  Porque "nossa"? De onde vem isso? Nossa?

Ana - Nossa, de alguma coisa que pertence a nós. É como culpar toda a humanidade pelo erro de um.

Inês - Acho que é só Nossa. de Nossa Senhora.

Rory - Que senhora, gente? Que senhora é essa?

Ana - Inês! Será?

Inês - Ah, então você não é Inês?

Ana - Eu? Não.

Inês e Rory - Pena

Ana - É, que pena. Bom, desculpa...

Inês -  É, a gente tinha uma certa expectativa.

Ana deita atrás dos bancos. Rory sobe no andaime e Inês em pé ao lado das cadeiras, descasca a madeira.

Rory para a coxia: QUE? NÃO TO TE OUVINDO! QUE?

Inês: Tá perguntando que ônibus ela tem que pegar.

Rory: Ah! Fala pra ela pegar o onibus 234
ines grita para a coxia: falou pra vc pegar o 434

rory: diz pra ela não esquecer de levar o brigadeiro

ines grita para a coxia: levar o brigadeiro

rory: esquecer de levar

ines grita para a coxia: esquece de levar!

rory: não!! é pra NÃO esquecer!

ines grita para a coxia: não esquecer de levar o brigadeiro!! No 434!

Rory: Tem que levar antes!

Ines grita para a coxia: Lava antes, hem!

Rory: Que isso! não é pra lavar o brigadeiro!!

Inês grita para a coxia: é pra você lavar o ônibus!

rory: droga. vou ter que voltar

Victor arrasta o banco e exibe Ana dormindo escondida. Ana logo se recompoe com a cara toda amassada, e um sorriso falso.

Victor: engraçada essa coisa de vc trabalhar em um lugar e deixar claro para todo mundo que não gosta de trabalhar aqui

Ana: eu...

Victor: EU gostaria de tratar bem as pessoas. EU gostaria de ter compatencia

Ana: EU queria um incenso. vc tem? Tava procurando aqui atrás...

Victor: vc trabalha aqui.... devia me dizer que eu não posso entrar com coisas que pegam fogo

Rory desce do andaime.

Rory: uma senhora vomitou o banheiro inteiro pq ficou enjoada com esse cheiro de maçã verde.

Victor: estou reclamando da conduta dessa funcionaria ha tempos. ligo para o SAC e falo dessa funcionaria. a gente paga caro...... vc é digna de pena

Ana: vcs deviam pegar esses 4,50 e enfiar no cu

Rory: nossa. Aí que a gente vê quem recebeu educação em casa e quem não recebeu.

Inês: Vocês tão exagerando! Ela é ótima!

Ana: Brigada!

Inês: Me ajudou a achar meu brinco, já! Achar minha bolsa.

Victor: Como você perde coisa! Engraçado que eu nunca te vi com nada!

Rory: Ele é bem observador

Ana: Vou trabalhar!

Diálogo victor e rory

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