Quero ser o mais sincero possível. Quero fazer uma escrita
pessoal. Quero entender o nosso ponto de partida, aquilo que nos une e une
nossos desejos na construção de uma vida, que para nós é obra, é um trabalho,
uma peça, um teatro.
O ponto de chegada é, realmente, e é natural e fundamental
que assim seja, carregado de incertezas. O ponto de partida não.
É necessário
que se saiba que saímos daqui, do lado de cá da Baía de Guanabara. A barca era
da antiga e demorou um pouco para ganhar as águas rumo ao Rio de Janeiro. Era o
meu primeiro encontro com a equipe de artistas que tinha começado a ‘’viagem’’
em setembro de 2012 – palavras do comandante. Eu estava ansioso e cheio de
esperanças e expectativas. Fui tomado por uma vontade forte de escrever,
vontade essa muitas vezes vencida pela preguiça, por não saber o destino das
palavras, quero dizer, a que ou a quem elas poderiam servir.
Sabendo que estava
no projeto e que a equipe tinha por característica construir a dramaturgia em
conjunto, em processo e possivelmente utilizando um blog para registrar, peguei
o lápis e lancei as primeiras frases no papel. Essas frases vieram, mais a
frente, ambientar a nossa criação.
A peça se passa dentro de uma barca. Eram duas
ideias iniciais: construção e ruína. Tudo nasce daí. Esse foi o meu primeiro
olhar: viajar em uma barca antiga e me sentir melhor que numa nova embarcação.
Fui seduzido pelas pequenas coisas daquele pequeno trajeto e assumi um olhar
particular que se direcionou para o caos. Caos do ponto de vista em relação ao
objeto de observação. Caos em descrever. Caos material propiciando uma ficção
pessoal.
O desejo de ficção era real e fomentou
a escrita de todos os artistas envolvidos. Os pilares foram aparecendo: quatro
personagens que habitam o mesmo lugar, e que escolhem se relacionar para suprir
demandas espaciais, temporais, existenciais, sentimentais, filosóficas, banais,
práticas, subjetivas, fundamentais. O tempo é o percurso, a espera. O espaço é
a barca. A ação é o encontro. Quatro desconhecidos que se percebem e se revelam
no contato com o outro. Um homem e três mulheres. Três mulheres e um homem.
Quatro pessoas. Quatro possibilidades de trajetória.
Em crise com essa escrita. Cheguei num ponto que não consigo cavar mais embaixo. Tratando-se mesmo de conteúdo, ''daquilo que poderemos estar querendo dizer''. Sinto que nos faltam alguns alicerces cruciais para o que chamei de ponto de partida, e descobrir essa ausência pode clarear esse início, esses personagens e as relações que surgem pelos encontros entre eles. Sigamos.
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