fragmentos do trabalho de João Castilho

sábado, 16 de março de 2013

Para Rory

Queria poder te falar sem mexer a boca, sem dançarem os dedos, e sem esse mar de luz invadindo minhas pupilas. Se eu tivesse coragem de parar e olhar pra você, talvez não precisasse dizer nada. Mas não tenho. Então quero contar que tenho medo. Eu sinto medo porque tá todo mundo sabendo o que fazer, pra onde ir. Por isso eu tenho inveja da Inês. Ela não parou no meio do caminho. Não apodreceu na travessia. Queria te dizer também que eu só rio de medo do silêncio. Eu rio mesmo é pra dizer que tá tudo bem, pra mim mesma. Queria dizer também que eu só limpo esse lugar pra me esconder atrás das cadeiras. Que transbordo, sim, mas pra baixo, entende? Claro que não. Deixa pra lá. Queria mesmo era dizer que entendi o tal do Azul. Ele é só reflexo sabia? Reflexo da superfície de coisas muito muito grandes como quase nada é. Quando a gente olha o céu e depois olha o mar... Pensa ter visto, mas não vê. Porque eles estão muito, mas muito pra lá do que a gente consegue enxergar. Então, alguma coisa entre nós e essa imensidão do outro lado é refletido pela luz e nós vemos tudo azul. Entendeu? A gente não pode achar que azul já é a própria coisa. Quando a gente acha é que dá aquele gosto ruim na boca, aquele cheiro doce e a água no estomago! E Essa sua vontade de ser azul, então, é só sua vontade de crescer pra dentro!! E a minha vontade de vazar azul, era só pra criar espaço, pra não me afogar. Dentro dele habita o mundo inteiro. Dá vontade de fugir só de olhar.

Ah, queria te falar também pra você não parar mais pra pensar. Isso é coisa tola. Ontem eu vi a tristeza da estabilidade. E aqui dentro o sangue, o ar, os pensamentos.. Tá tudo girando.. E até o mundo, esse pedaço de azul que gira ha tantos e tantos anos... Não precisa chorar, mesmo que a gente queira a gente não consegue parar. E isso chega a ser bonito. No fim das contas, queria te falar pra não acreditar no Azul. Ele quer dizer pra gente que é tudo e que estamos perdidos, mas ele não é nem o começo.

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