fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 13 de março de 2013

Cena 3


CENA 3


A luz acende devagar

Ana ainda dorme no mesmo lugar. Inês, deitada no chão, com os pés para cima de uma cadeira. Com calma, engatinha com os dedos para lados opostos, os braços a 90° do corpo. O movimento é lento e se não fosse interrompida, talvez continuasse até os braços se separarem do próprio corpo e serem perdidos de vista cada um para um lado. Ele entra e senta no banco ao lado de Inês.

Inês: É muito bom quando a barca está vazia. A gente pode ficar completamente a vontade.

Ele não responde. Inês narra histórias consecutivas sem conseguir parar de rir e com isso, sem ser compreendida. Ele presta atenção.

Inês: Aconteceu uma coisa hahaha muito engraçada hahaaha a velinha, né, passou por aqui e ahahahahah teve que hahahaha não tinha como pegar hahahahahaha todos os coletes hahahahahaha e ela hahahaha entende? hahahaha tinha de começar hahahahahahaha como se pudesse dizer hahahaahhahaha o homem não ahahahahahahaha e todo mundo aaaah e tibofe e hahahahahahaha todas as vezes hahahahaha e tem outra: a menina que vem aqui todo dia hahahahahahaha sabe hahahahahaha meio albina hahahaha ela esqueceu que hahahahahahaha e começou a correr ahahahahahahaha e quanto mais hahahahahahaha e o mar hahahahahaha e de repente hahahahahahaha …...

Rory entra e começa a brincar de se desequilibrar com a instabilidade da barca. Na entrada de Rory, Inês se recompõe e senta na cadeira rapidamente. Rory gira e tenta agarrar o ar com a mão.

Inês: Nossa.

Ele: Será que ela não devia estar com os pais?

Inês: acho que ela é incapacitada.

Ele: Que chato.

Inês: Ai, tá me irritando

Ele: Que chato.

Rory, com o tempo, vai perdendo o controle e a tonteira vai lhe dando enjôo. Inês e Ele continuam falando entre si.

Rory: Ajuda aqui por favor. To meio instável.

Inês: Ai, que saco

Ele: Fica rodando, dá nisso

Rory cada vez mais desequilibrada, as pernas moles. Ele se posiciona do lado Direito da cena, protegendo uma saída para a coxia. Grita quando Rory se aproxima.

Ele: ESPAÇO RESTRITO! CASA DE MÁQUINAS! ESPAÇO RESTRITO!

Rory finalmente consegue se segurar e um banco e senta. O rosto enfiado no pescoço prestes a vomitar.

Inês: To desconfortável

Rory segura na sacola ao lado de Inês e vomita dentro. Seu rosto desaparece dentro da sacola.

Rory: Desculpa.

Inês: Ela vomitou dentro da minha bolsa.

Rory entrega a sacola à Inês e sai. Ele senta ao lado de Inês novamente. Inês coloca a sacola no chão, ao lado de Ele. Ele retira de dentro da sacola um colete salva-vidas, que veste.

Inês: Onde você conseguiu isso?

Ele: É meu.

Inês: Achei que fosse da barca

Ele: Não. Eu sempre trago.

Inês: Me empresta?

Ele: Não posso. Seria um risco. Imagina se afunda

Inês: Pára.

Ele: Eles não tem para todo mundo

Inês: aaaii

Ele: Vou respirar.

Ele sai.

CENA 4

Inês tenta respirar devagar. Começa a contar para acalmar uma possível crise de pânico. Som o tempo entendemos que ela está contando as tomadas.

Inês: 1 2 3 4 5 6 7 todos

Inês se levanta. Partitura "Inês e as tomadas".

Inês: 7 todos todos todos 7 8 todos 8 88 8 atenção hahahah ninguém. tá vendo. vocês… mas…. nós existimos enquanto 9 10. 9 10 todos aqui presente e quietos silenciosos. ninguem ve, mas sentem… a energia…. todos embaixo… nenhum em cima! ah um em cima….
um está em cima de todos, o que quer dizer alguma coisa que agora nao tem importancia. logo vai chegar um ser estranho entres nós. continuamos silencionsos enquanto o ser estranho salta empurra pendura salta voa mesmo. assim. continuando. esse ser em cima. continuando. paramos todos os 8 9 10 e observamos. 8. silêncio. 8 9 10 silenciosos.

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