passos marcados. os dedos quebram o tempo dos pés em quatro. o mar dança valsa, os peixes frevo. estamos morrendo todos. um menino escuta funk pelo fone de ouvido.
uma intromissão
- oi
um susto
- oi
- você pode me emprestar o isqueiro?
- eu perdi dentro da mochila. acende com o meu.
o cigarro
- vamos entrar aqui
- acho que é proibido
o fone do ouvido
- tá com medo?
- não.
uma corrida solitária
desenho de som
eu tava chorando porque era mais fácil do que rir, mas não teria a menor diferença. era só água salgada da baía com derramamento de óleo. estava parada, olhos fechados, tentando me equilibrar e ouvi uma baleia passando. nem tão fria que parecesse cínica, nem tão perto para ficar cega. eu fiquei ali, do lado da baleia, esperando que ela me engolisse. e no auge da sua crueldade, ela foi embora e me deixou vivendo. só lembro do barulho do meu estômago.
Menino ouvindo funk, o grito da baleia...
ResponderExcluirNem tão fria que pareça cínica, nem tão perto que fique cega. Acho que somos cegos. Somos, com certeza, surdos.