fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Memórias da ausência.

                    Daqui a vista parece truque. Vamos colocar os corpos nos eixos e resolver tudo de ordem aleatória como em contos de flor. Queria que chovesse pelos ouvidos e que todas as possíveis palavras fugissem e nunca mais dessem as caras. Os corpos permaneceram na mesa de lembranças. A gente podia guardá-los e de vez em quando brincar de quebrá-los sempre quando as asas tomarem frente. Assim podemos fingir que ficamos tristes com a falta de memória. E se o corpo for a flor? Não. Agora não quero pensar em idiomas de continuação. Vamos enquadrar as trepadeiras do quintal e tudo estará resolvido. Tudo sem acordo algum. Sem fita.Sem barco.Sem sempre.Sem colo. Sem sétimo sentido que nos condena.
                    Tô indo mãe, só tenho que terminar de contar esses dias, preciso separar os azuis dos verdes e os verdes dos vermelhos, não posso me esquecer de nada ,  juntar as noites e principalmente embaralhar as pálpebras para não mais se ter dúvidas da minha ausência. Preciso separar em ordem alfabética algumas partes de mim. Alguém perdeu essa etiqueta? Se não tiver dono é minha. Quando eu terminar a coleção tudo estará resolvido. Quando eu aprender a fazer cores de mentira tudo estará resolvido. Quando eu separar essas agulhas tudo estará resolvido. Quando eu pontuar os pássaros no papel tudo estará resolvido. Quando algum poeta cuspir na minha cara tudo estará resolvido.
                       Quando eu começo a entender embaralham-se novamente os truques e partimos para outras janelas.

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