fragmentos do trabalho de João Castilho

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

ar, boca e concreto



Eu abro a boca e profiro algumas palavras. Tentativa de construção. Mas já é ruína. Como são essas palavras que querem construir algo mas já nascem fracassadas? Elas começam fortes, duras e coerentes e do meio pro fim perdem a força, escorrem num sopro xôxo? O ar vai só até a metade? Começam sólidas e viram liquido? Ou são sólidas do começo ao fim mas sem ninguém para as escutar, ou melhor, sem ninguém para segurá-las? Quem segurará minhas palavras pedregulhosas, tijolentas, graves bolas de boliche maciças, miolos de pão consistentes, concisos? "Se eu gritar, quem poderá ouvir-me, na hierarquia dos anjos?" 
Elas são pedaços de tijolo sozinhos numa paisagem? A ruína imediata está no timbre? O projeto de construção que já é ruína está nas palavras que são só sons e não conteúdo? Palavras ocas, apenas em sua forma....

A justaposição de construção e ruína está:
1- na falta de alguem que escuta?
2- Na falta de alguem que fala?
3- Na falta de alguem que fala e escuta (só palavras puras)?
4- No timbre?
5- Na respiração?

Hein, hein????

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