fragmentos do trabalho de João Castilho

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Só de azul.


Não. Definitivamente não vale o que imaginamos e nem sorrir desse jeito pra cobrir o silêncio que sempre fica. É sempre assim: O azul se espalha pela sala impossibilitando a busca por distrações em outras cores. Eu e o azul. Se ao menos houvesse vitrais nessa janela os olhares poderiam se desviar de vez em quando e daria tempo para disfarçar a ansiedade de se suprir algo de que já não lembro mais  se existe. Aí os pés se movem numa ansiedade verdadeiramente planejada para disfarçar a espontaneidade falsa. Ainda existe muito azul para pouco eu. Dou uma espiada. Espiadela de nada. Juro. Um, dois, três pares de olhos que se multiplicam quando olhados dessa posição. O corpo reage com um sorriso tímido que começa bem pequenino e logo se espalha pelo rosto inteiro engolindo algumas das muitas sardas. Tenho a impressão de que as palavras que menos queremos demonstrar são as que sempre ficam extremamente estampadas. Talvez tudo isso seja culpa do azul e por isso que vou começar a contar por ele. Não vale porque não é concreto, entendem? Temos que ser concretos porque se não vira bagunça com facilidade.  Eu tenho que contar né? É que todo mundo chegou aqui e contou. Eu vou contar as tomadas, depois os tacos do chão. Aí eu vou contar os livros. Depois os canos… depois eu conto os dedos e as sacolas plásticas...não....do início porque tem a história das persianas e da rinite... Também tem um caso curioso... como era mesmo? Havia algo parecido com barcas e sangue...não...Acho que sonhei.... ou foi uma piada. Os pés voltam a bater com força. A perna aberta e empapada reforça ainda mais o que eu não queria dizer. Se mais alguém aparecesse eu iria me jogar  e dizer:
      - Agora tá com você!
Não dá. Afinal, sou uma mulher e se um corpo for encontrado....assim..não...eee...ah,não sei explicar. Deixa pra lá. Acho melhor não. 

2 comentários:

  1. é isso aí! o mais frágil é o que mais fala sobre você. Timidez, resistência, erotismo, terror, estereótipo, violência, memória.

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  2. e azul... e a confusão que faz a gente achar que entendeu... tendo a certeza de que não, pq é muito mais profundo

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