Não. Definitivamente não vale o que imaginamos e nem sorrir
desse jeito pra cobrir o silêncio que sempre fica. É sempre assim: O azul se
espalha pela sala impossibilitando a busca por distrações em outras cores. Eu e
o azul. Se ao menos houvesse vitrais nessa janela os olhares poderiam se desviar
de vez em quando e daria tempo para disfarçar a ansiedade de se suprir algo de
que já não lembro mais se existe. Aí os
pés se movem numa ansiedade verdadeiramente planejada para disfarçar a espontaneidade
falsa. Ainda existe muito azul para pouco eu. Dou uma espiada. Espiadela de
nada. Juro. Um, dois, três pares de olhos que se multiplicam quando olhados
dessa posição. O corpo reage com um sorriso tímido que começa bem pequenino e
logo se espalha pelo rosto inteiro engolindo algumas das muitas sardas. Tenho a
impressão de que as palavras que menos queremos demonstrar são as que sempre
ficam extremamente estampadas. Talvez tudo isso seja culpa do azul e por isso
que vou começar a contar por ele. Não vale porque não é concreto, entendem?
Temos que ser concretos porque se não vira bagunça com facilidade. Eu tenho que contar né? É que todo mundo
chegou aqui e contou. Eu vou contar as
tomadas, depois os tacos do chão. Aí eu vou contar os livros. Depois os canos… depois
eu conto os dedos e as sacolas plásticas...não....do início porque tem a
história das persianas e da rinite... Também tem um caso curioso... como era
mesmo? Havia algo parecido com barcas e sangue...não...Acho que sonhei.... ou foi uma piada. Os pés voltam a bater com força. A perna aberta e empapada reforça ainda
mais o que eu não queria dizer. Se mais alguém aparecesse eu iria me jogar e dizer:
- Agora tá com você!
Não dá. Afinal, sou uma
mulher e se um corpo for encontrado....assim..não...eee...ah,não sei explicar.
Deixa pra lá. Acho melhor não.
é isso aí! o mais frágil é o que mais fala sobre você. Timidez, resistência, erotismo, terror, estereótipo, violência, memória.
ResponderExcluire azul... e a confusão que faz a gente achar que entendeu... tendo a certeza de que não, pq é muito mais profundo
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