fragmentos do trabalho de João Castilho

domingo, 30 de dezembro de 2012

ensaio 2. 20/11/12



- A entra e em e observa o espaço, assim que B entra, A começa e descrever o espaço.
- B entra e cria uma trajetória no espaço que repete seguidas vezes.
- C entra, observa a trajetória e estabelece um impedimento, esbarrão.
No momento de encontro B e C, diálogo. A pára de descrever e só observa. Diálogo superficial, circunstancial até que B e C se despedem. Fim. 

- substituir a despedida por um acerto de contas fora do tempo entre B e C, para finalizar o jogo. )

Imagens:
- esbarrão Victor e Fe
- relação da Ana com o objeto, descrição
- Elisa em cima da Fe. “Você não acha a gente muito pretencioso?”. Desequilibram, Elisa cai e Fe bate com a cabeça (sorri) “Talvez.”.
- Elisa andando de quatro.

A, B, Inês e Analu

A - Opa, desculpa
B - De nada.
A - Machucou?
B - Médio. Eu gosto.
A - Entendi. Que pena. Eu tinha uma certa expectativa.
B - Não vem com esse papo pra cima de mim. (risos)
A - Não, é sério. Eu te vi e pensei: "ela é diferente".
B - De mim.
A - De mim.
B - Você é engraçada.
A - Eu sou bem sem graça na verdade
B - Pra mim você é engraçada.
A - Pra mim.
B - Pra mim.
A - Você mora aqui perto?
ANALU - Tanto faz
A - Oi?
B - E você é?
ANALU - Eu sou só isso aqui mesmo.
B (para A) - Acho que ela é Inês.
A - Ah, eu ouvi alguma coisa do tipo.
B (para A) - Você é daqui, então?
ANALU - Defina daqui
A - Daqui é daqui. Daqui desse lugar. Daqui.
ANALU - Gerada, concebida, nascida, crescida e envelhecida nesse metro quadrado daqui? Parece desesperador.
B (para Analu) - Eu acho que já te odeio.
ANALU - Nossa
A - É, nossa!
B - Nossa o que?
A - Nossa o que o que? Só Nossa.
B -  Porque "nossa"? De onde vem isso? Nossa? (elisa?)
ANALU - Nossa, de alguma coisa que pertence a nós. É como culpar toda a humanidade pelo erro de um.
A - Acho que é só Nossa. de Nossa Senhora.
B - Que senhora, gente? Que senhora é essa?
ANALU - Inês! Será?
A - Ah, então você não é Inês?
ANALU - Eu? Não.
A e B - Pena
ANALU - É, que pena. Bom, desculpa...
A -  É, a gente tinha uma certa expectativa.
(acenam e saem, para lados opostos)

sábado, 29 de dezembro de 2012

as mãozinhas dançando no ar


Louca. Doidinha, coitada. Aquela coisa... Está sozinha mesmo quando tem alguém por perto. Alonga os braços para alcançar outra mão que não diz nada. Fica sozinha de novo. Bate palma. Dança como se esperasse. Anda como se não acabasse. Brinca querendo brigar. Um erro comum. Observa, senta e observa. Outros andam, se preocupam, descrevem. Ela senta e observa. Aponta e ri. De novo, sozinha.. A auto suficiência constrange os outros. Eles vão embora. Ela nada, dança, observa. Caetano canta. Ela gira. Não liga. as costas dançam. A cabeça cai... as costas pesam... Leve deita. Volta e dança e nada. Não percebe o obstáculo, acha que se move sozinha. Finge que não liga. Brinca com os dedos dos pés, briga. Só restam eles. O espaço esperando ser dançado e Caetano. Então, ela esbarra.

- Opa!
- Desculpa... É que nunca vem ninguém por aqui...
- Sério? Eu moro aqui.
- ....

Você Me Vira a Cabeça - Alcione (ao vivo)


Fumar, tomar um vinho, dançar, girar, cheirar a camisa que alguém esqueceu e escorregar na porta fechada...



como ser odiada usando pouco tempo

(Te agarra como se fosse a ultima coisa a fazer no mundo)

- Nossa a peça foi ótima!! Você estava linda!
(Tentando se soltar) - Ah....... Obrigada!
(Usando o dedo indicador) - E ó deixa esse cabelo crescer, heim? Mulher tem que ter cabelo grande!
- Ahh... sim... Claro...

Amigo Oculto às vezes é melhor continuar oculto

N - Bom, se ela fosse um objeto.... Ué, objeto! Pode ser objeto?
A - Pode!! Pode ser qualquer coisa!
N - Bom, se ela fosse um objeto... Ela seria um abajour daqueles de pé... Com a luz no alto!!
V - Porra, sacanagem!! Qualquer coisa assim também não, né? É alguém, deixa eu ver... Alguém que fica à margem!!
G - Não, não, eu sei!! É alguém que ilumina!!
B - ah, então, é V!! Ela é a única que já deu a luz alguma vez...
V- Porra, sério que eu sou um abajour, cara? Sacanagem! Não tem nada a ver...
(Presentes entregues, fim de noite...)

V - Não, mas sério... Porque um abajour?

Tá tudo escuro

- Para! Para! 
- O que foi? Eu te machuquei?
- ...
- Tá tudo bem?
- Não, não tá tudo bem. Desculpa.
- ...
- É difícil, entende? É uma invasão, eu... Desculpa... Mas às vezes meu coração endurece, é uma dor.. e essas luzes todas me fazem delirar...
- Eu podia fazer isso a noite toda
(Quis mandar o idiota ir se foder, mas ia sobrar pra ela)
- Eu não to legal, por favor não encosta... Vai ficar tudo bem.
(Quis passar a noite olhando o teto, olhando em direção ao teto sem ver o fim. Ouvindo as goteiras e ver luzes piscando. Essa angustia, essa dor, não são dela. Ou melhor, agora são.)
- Com ele você disse que não sentia isso, né? Com todos sim, mas com ele não.
(Quis matar, socar, trucidar.)
- É sempre diferente... Eu só não quero falar sobre isso. 
(Já está quase amanhecendo mas parece que o dia nunca chega. Ela dorme com o barulho do despertador. Acorda já sem nojo. Entende. Jura nunca mais. Entende que é impossível. Lembra de girar. Gira. Lembra que girou. Pronto. Passou.)


Senhor J

Pra não contrariar, Senhor J nasceu só de mãe. Rolou uma coisa de muitas pessoas virem de longe pra ver seu nascimento. O céu estrelado e tudo muito humilde. Bom, depois cresceu. Apesar de muitos só terem notícias dele depois dos 30, há quem diga que viveu todo esse tempo na Índia estudando com grandes Mestres. Pra algumas pessoas isso não faz a menor diferença. O que importa é que deu óculos aos cegos, cadeiras de rodas aos deficientes e Curou os Inválidos. Parece que se ofereceu no lugar de milhões de pessoas para morrer por elas. Mas depois ressuscitou!! É! Isso mesmo, meu bem, ele ressuscitou! E depois? Não se tem mais notícias. Procura-se Senhor J. Moreno, alto, cabelos negros e longos, barbas por fazer, costuma usar uma túnica branca enorme e andar descalço. Há quem diga que ele nunca existiu. Há quem não dê a mínima. Há quem diga que sabe onde ele está. Há quem grite muito tentando chamá-lo. E há quem faça guerra em nome do seu Amor. Senhor J, que confusão, heim?!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sequelas do cinza

Porta, chave,elevador, prédio, porteiro.Bom dia seu André.Confere: carteira,celular,chaves,livro. Rua, mundo verde, banca, metrô, telefonema. Desiste. Volta. Barraquinhas, mundo verde, rua, sinal.Vermelho. Espera. Verde, anda. Restaurante,posto, papelaria, não tem papel higiênico em casa. Supermercado.Erra. Era papel tolha volta. Agora sim. Passa pela fileira de chocolates e mesmo marcando 38 graus no relógio em frente não resiste. Pega um. Fila. Próximo.Próximo. Chega a vez. Deu 10,49 senhora. Não escuta. Tira o fone do ouvido. Ah,sim 10,49. Mochila. Confere: chave,celular e .....queria ter escrito carteira agora. Procura nos outros compartimentos da mochila, nada. Corre. Papelaria, posto, restaurante,nada. Sinal . Não espera e atravessa. Mundo verde, Barraquinhas,metrô,banca, nada. Confere a mochila de novo. E de novo. Desespero. IdentidadeTrintaReaisCartãoDoBancoCaralhoFudeu. Choro. Engole. Rua,porta,portaria,André, elevador, chave,casa, sofá. Olha para o nada. Não tem solução.Burra,burra,burra,burra! Vazio.Chora.Controle. Liga. Pernalonga. Esquece as vezes,  entre as cenas sem ação lembra.A cada lembrança se torna menos grave. Agora é mais importante saber se dessa vez o Pato Lino irá conseguir se vingar de seu companheiro. Pato Lino, carteiracarteiracarteira, Pernalonga ,carteira,comercial, car...ih, esse ator não é aquele que fez..como se chama mesmo? Descobre como esquecem de políticos corruptos tão rápido. Ri de si mesmo. Para rápido. Não pode se permitir rir numa situação dessas. Força um choro. Tenta lembrar da carteira para se emocionar. Nada. 


Procura-se carteira branca relativamente velha com pequenos e patéticos ursinhos desenhados. Dentro dela continha identidade,cartão do banco, aproximadamente 30 reais e o mais importante: Guardava um choro que precisava  com urgência sair da garganta.

Coração,garganta,paladar, olhos e nada.

This Is It.

X começou a cantar e dançar aos cinco.
Aos onze já era profissional junto com seus irmãos.
Em 1971 quis ser sozinho.
Vendeu muito. Ficou Rico. Teve Vitiligo. Era preto e embranqueceu. Andou pra trás.
Por vaidade preferiu ficar todo branco.
"Ele tem testículos marcados por manchas rosas e marrons, como uma vaca" disse D que aos 13 diz ter sido abusado por X.
X ainda é citado como o maior ícone negro de todos os tempos.
Com quase cinquenta resolve por seu filho na janela.
Morre aos cinquenta  sem saber ao certo se foi rico,ícone,branco, preto ou vaca, por intoxicação aguda de anestésico propofol após uma parada cardíaca.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

exercício de transcrever um diálogo do dia

27 de dezembro, às 16h30

- se um corpo for encontrado.... assim... não... se eu tiver na agua de cabeça para baixo... eee.... ah, não sei explicar não, deixa pra lá. Acho melhor não.

- se quiser continuar tentando tudo bem

- to pensando mas não consigo. só consigo ver. não consigo explicar. se um cara tiver assim ó. na agua. ele tá na agua em pé numa piscina e alguem chega por trás dele e quebra o pescoco dele. que nem no filme. ele vai morrer, mas ele vai boiar ou não?

- nao sei. acho que à principio, ele afunda, e vão saindo todos os líquidos do corpo dele pelos orifícios. depois quando começa a entrar o ar, ele boia.  

- mas ele vai estar afundado. Não vai entrar ar, vai entrar água

- e água é o que? é feito do que?

- aguá é agua

- são duas bolinhas de ar juntas que dão agua

- que isso. você tá confundindo oxigênio com ar!

- bom, você quer minha explicação ou não?

- não, eu achava que você sabia mais do que eu.

Encontros

Victor: Uau. Totalmente Circunstancial!
Fernandinha: Oi?
Victor: haha ai ai. Desculpa. Eu costumo nomear meus encontros com mulheres.
Fernandinha: Isso não é um encontro
Victor: Claro que é. Estávamos os dois passando no mesmo lugar na mesma hora. Probabilidade é matemática.
Fernandinha: Achei que encontro fosse química.
Victor: Erro comum.
Fernandinha: Por que Circunstancial?
Victor: Bom, não é programado, nem almejado, sequer manipulado, evidente, preliminar, autoritário...
Fernandinha: Eu achei um pouco autoritário.
Victor: …
Fernandinha: Tudo bem. Eu gosto. Quer tomar um café, ó grande mestre dos encontros?
Victor: O que? e mudar o rumo das coisas? Não, a gente tem que se despedir aqui.
Fernandinha: E se eu não quiser?
Victor: Não depende de você. Qual o seu nome?
Fernandinha: Circustância
Victor: Prazer
(Faz como quem vai beijá-la. Ela enfia os dedos dentro da sua boca e sai.)



Victor: Almejado
Analu: Ihhh, ó, dá licença que eu tenho que limpar toda essa parte aí e se eu parar pra ficar de conversinha não consigo terminar e amanhã vai ser duas vezes pior e nada tão ruim como dormir sabendo que amanhã vai ser pior do que hoje.
Victor: Convincente
Analu: Sai



Elisa: To aqui pensando. De repente você é a pessoa que tem alguma coisa bonita pra me dizer.
Victor: Você deve estar me confundindo.
Elisa: Não. Pode ser qualquer um. Não dá para acreditar 100% em horóscopos, né?
Victor: É, 100% não.
Elisa: Então?
Victor: Que? você que me parou.
Elisa: Mas você que tem alguma coisa para dizer.
Victor: E se eu eu não tiver?
Elisa: E se eu disser que sou ninfomaníaca?
Victor. Não me importo. De verdade
Elisa: E se eu disse que sou poeta?
Victor: Aí teremos um problema. Não gosto de poesia. Muito menos de metáfora.
Elisa: Eu sei. Você passou e eu pensei: "Aquele homem não gosta de metáforas, se mesmo assim ele conseguir me dizer alguma coisa bonita, eu não preciso mais me matar"
Victor: E se eu não conseguir
Elisa: Tudo bem, não precisa se cobrar tanto. É só um encontro não, é?
Victor: Não sei dizer.
Elisa: Tchau
Victor: … tchau

sábado, 22 de dezembro de 2012

(X se joga em cima de Y)
Y: Opa!
X: Meu deu uma vontade de me jogar assim!
Y: Ah! Imagino! Deve estar sendo ótimo! É... (risos)
X: É ótimo! Você tá gostando?
Y: Adorando! Uma pena que eu tenha que terminar minha trajetória. (saindo) Desculpa tá?! 
X: Ah que pena!

Memória produzida

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Fotografia de família

Uma cidadezinha debaixo d'água por conta de uma grande enchente.
Eu estou nessa cidade, visitando-a 50 anos depois. Passo por uma pequena rua e vejo a foto de um adolescente na varanda de uma casa azul. É uma foto desenhada. Vejo um senhor na sala, com girassol na janela aberta. Pergunto ao senhor se posso reproduzir a foto. Ele diz que sim.
Ao pegar a foto em mãos, o homem chora. É seu filho. Era. Morreu muito novo na enchente. Eu pergunto a ele se posso tirar uma foto dele com o filho nas mãos. Ele diz que sim.
Depois que eu bato a foto, ele vai para dentro da casa e volta trazendo consigo uma dezena de outras fotografias da família para que eu visse. A fotografia ancora o passado ao presente desse senhor.
- Um homem sem fotografias morre duas vezes, diz ele que sim.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Instruções para subir uma escada, de Julio Cortázar


Ninguém deve ter deixado de reparar que frequentemente  o chão se dobra de uma maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e, em seguida, a próxima parte está colocada de maneira paralela a esse plano, dando vez a uma nova perpendicular, procedimento que se repete em espirais ou em linhas desiguais até alturas extremamente variáveis. Agachando-se e colocando-se a mão esquerda em uma das partes verticais e a mão direita na parte horizontal correspondente, logra-se a posse momentânea de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como pode-se ver, por dois elementos, está situado um pouco mais acima e mais adiante que o anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais belas ou pitorescas, mas incapazes de transportar de um térreo a um primeiro andar.
As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado são particularmente incômodas. A atitude natural é manter-se em pé, os braços dependurados sem esforços, a cabeça erguida, mas não o suficiente para que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se pisa, e respirando-se lenta e regularmente. Para subir uma escada deve-se começar por levantar essa parte do corpo situada à direita e abaixo, quase sempre envolta por couro ou camurça, e que, salvo exceções, cabe exatamente no escalão. Colocada no degrau dita parte, que, para abreviar, chamaremos de pé, recolhe-se a parte equivalente da esquerda (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé anteriormente mencionado) e, levando-a à altura do pé, faz-se que continue até colocá-la no segundo degrau, com o que, neste, apoiará o pé, e no primeiro apoiará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até adquirir-se a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. É especialmente importante cuidar em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.)
Chegando-se dessa forma ao segundo degrau, basta repetir alternadamente os movimentos até encontrar-se com o final da escada. Pode-se sair dela facilmente com um golpe ligeiro do calcanhar que o fixa em seu lugar, de onde não se moverá até o momento de descer.
texto original, aqui: http://www.literatura.org/Cortazar/Instrucciones.html


o despovoador

Gente, leitura sugerida para pensarmos descrição.


"Chão e parede são de borracha dura ou similar. Golpeados violentamente com chutes ou murros ou cabeçadas eles quase não soam. Imaginem então o silêncio dos passos. Os únicos ruídos dignos desse nome provêm do manejo das escadas e do choque dos corpos entre si ou de um só consigo mesmo como quando de repente com toda a força ele bate no próprio peito. Assim subsistem carne e ossos. Escadas. São os únicos objetos"




O Despovoador - Samuel Beckett

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

40 delas

São 40 delas, soltas pela cidade! Duas delas aos pés da escada, da escadaria, fazem um ensaio fotográfico, e pedem água ao vizinho de cima, que aparece na janela. Quando a água chega... Surpresa e bom humor! ''Tem boa noite cinderela aqui não né?''
São 40 delas, soltas pela cidade. Duas delas se esbarram no metrô. Quem esbarra não pede desculpa e a esbarrada, sem perdão, joga a outra na frente do trem que vem chegando. Essa situação provocou uma ação em Paris. Fechem as estações com vidros, de modo que somente as portas se abram, quando o trem chegar.
São 40 delas, soltas pela cidade. Duas delas se amam durante meia hora. Duas delas se encaixotam no  centro do bairro. Duas delas envolvidas na produção de pães de queijo. Duas delas na venda de mate supervalorizado. Duas, delas, nota-se o pronome ''minha''. Quantas sobram?
Inês, me lembra, sem falta, são duas da manhã, eu preciso te falar uma coisa que eu estive pensando há pouco. Quando você terminar o que tem pra fazer, me responde, ok? Ah... não sobe hoje não!!!

Contágio

Primeira Tentativa
1 2 3 4 5 6 7 todos 7 todos todos todos 7 8 todos 8 88 8 atenção hahahah ninguém. tá vendo. vocês… mas…. nós existimos enquanto 9 10. 9 10 todos aqui presente e quietos silenciosos. ninguem ve, mas sentem… a energia…. todos embaixo… nenhum em cima! ah! um em cima….
um está em cima de todos, o que quer dizer alguma coisa que agora nao tem importancia. logo vai chegar um ser estranho entres nós. continuamos silenciosos enquanto o ser estranho salta empurra pendura salta voa mesmo. assim. continuando. esse ser em cima. continuando. paramos todos os 8 9 10 e observamos. 8. silêncio. 8 9 10 silenciosos.



Segunda Tentativa
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11… 23 24 25 26 … vale o que vc tá imaginando ou só o que vc tá vendo?


Terceira Tentativa
1… é pq eu tenho que contar, né… porque todo mundo que chegou aqui, contou… eu vou contar as tomadas, depois os tacos do chão. aí eu vou contar os livros. depois os canos… mas eu não vou contar os que eu imagino. depois eu conto os dedos. e as sacolas plásticas. e também as litras do chão, os chinelos, a cortina, os pontinhos da cortina. os tracinhos sutis da cortina.. aí eu vou sair contando. o taco. depois … não primeiro as tomadas. depois os tacos. depois vou contartar. esqueci as percianas. do início. primeiro as tomadas. depois os tacos. depois as percianas. depois o que não vale imaginar. depois quantas pessoas estão rolando na sala. depois a blusa preta a calça cinza. a dor. vou contar a dor. depois os dias. quantas vezes minha sinusite me incomoda. depois as noites. depois um caso que aconteceu comigo. dentro dessa sala. tinham 3 pássaros no céu. vou contar o abajur. contar números. e as persianas. não. é. mas eu não vou contar o que eu imagino, não… porque tem que ser concreto. daqui a pouco eu não posso contar com isso.

eu chego atrasada. o alongamento está no auge da coreografia. o ritmo é externo. o movimento é coletivo. eles giram.

A tenta girar como se tivesse o quadril de água. é na falha que acerta. B ganha intimidade com o chão. C descobre um braço que leva o corpo. B gira pelo ombro com os braços moles. D se descabela num balé desesperado. a tontura morde a orelha de pelo menos dois. preciso ligar para a minha avó. preciso comer alguma coisa. enjoada. de novo. A tenta abrir os ventos com o bico da mão. é infeliz cada vez que descobre sua matéria. C agora é extensão da perna. D não para de pensar em A B e C. 5 minutos. então. não mais. A percebeu que não dá pra ser feliz que nem as folhas porque a felicidade não existe. não. as folhas não existem. não. mundinho escroto de merda.
na metade na piscina, os 4 nadadores percebem que as raias limitam a sua existência. cansados de buscar o nada passam a olhar em volta como se buscassem no outro a si mesmo. C observa. todos se sentem sozinhos. PIIIII. 5 minutos. é difícil escrever comendo. uma tosse acaba com a atmosfera. quando um quebrar a raia, a raia deixa de existir. é assim que funciona. C gesticula compulsivamente, sem que o resto do corpo obedeça.
- que susto
- desculpa. às vezes eu tenho espasmos
- tudo bem. tava tudo calmo antes de você chegar
- desculpa
- era chato
- eu podia me apaixonar por você
- isso é um espasmo?
- o que? acho que é.
- eu gosto
- você é esquisito
- será que você podia ficar mais um pouco?
- ah, não. se eu ficar, eu morro?
- sério?
- não. mas eu durmo por dez anos
- e você continua tendo espasmos?
- é só o que fica
- tudo bem para mim, então

Inês e os 40

- Inês, desce daí.
- Só um instantinho.
- Jeff tá com uma risada estranha. Fiquei procupado.
- Peraí, peraí.
- Acho que tem a ver com você.
- To me concentrando aqui... um minuto.
- Acho que ele sente a sua falta. Não sei. acho
- Calma
- Eu fui lá, a mãe dele tava preocupada e eu comecei a desconfiar. Vc viu o Jeff? Viu como ele tá? Eu disse que podia ser falta sua. Eu falei... você acha que eu fiz mal?
- Ok. A gente nem se conhece. Quem é Jeff?
- Desculpa. Eu te confundi.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Como nascem os bebês?

útero de uma galinha



Um istmo (do grego ισθμός) é uma porção de terra estreita cercada por água em dois lados e que conecta duas grandes extensões de terra.

 O istmo mais famoso é sem dúvida o istmo através do qual passa o Canal do Panamá e que conecta a América do Norte à América do Sul.






Curiosidades e istmos famosos 

- O primeiro istmo a ser chamado assim foi o Istmo de Corinto, na Grécia.
- O atual istmo de Stradun (antigo istmo de Dubrovnik), ou seja, rua principal, conecta as duas partes da cidade croata.
- O istmo entre a África e a Ásia, no Egito, onde o Canal de Suez foi construído.
- O istmo de Kra liga a península malaia à Ásia.
- O istmo de Avalon, no Canadá, separa a ilha principal de Terra Nova da península de Avalon, onde se situa a capital St. John's.
- O istmo de Tehuantepec no México, é a parte mais estreita deste país.
- Os istmos são lugares estratégicos para a construção de canais. O Canal do Panamá, que conecta o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, reduz drasticamente o trajeto marítimo entre a costa leste e a costa oeste da América do Norte. O Canal de Suez, mencionado anteriormente, é um outro exemplo, pois permite ligar a Europa e a Ásia sem contornar a África.
- Os istmos são o inverso dos estreitos. Assim, enquanto os istmos ligam duas extensões de terra entre duas extensões de água, os estreitos unem duas extensões de água entre duas extensões de terra.

esbarrão1

Ele - Opa! Uma mulher acabou de morrer assim.
Ela - Como?
Ele - Assim. Esbarrou, não pediu desculpas, caiu aqui no metrô.
Ela - Ela se jogou?
Ele - Não. Esbarrou. Não pediu desculpas eu te joguei no metrô.

não tem ponteiro por que gira

Ô, cabeludo!!!! É Ele que gira, não nós!













Percebeu? Quantas voltas contaram depois do ultimo minuto?

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

completamente distraídos numa rua sem saída

      (Ensaio 2 -20/11/2012)

Sequências 1 e 2


Posição inicial: perna direita dobrada a frente e perna esquerda esticada atrás.
- 8 tempos – alongamento braços a frente.
- 4 tempos – volta para a posição inicial
- 2 tempos – passagem dos braços até a perna esticada para alongar a lateral da coluna.
- 6 tempos – pausa/ alongamento
- 1 tempo – girar o tronco para frente da perna esquerda.
- 3 tempos – pausa/ alongamento
- 4 tempos – tronco ereto
- 4 tempos – braços no ar, volta para a posição inicial
- 4 tempos – arrastar a perna esquerda, e dobrar em cima da perna direita.
- 2 tempos – puxar a perna, ajeitar
- 2 tempos – subir os braços, ganhar espaço
- 1 tempo – soltar o braço no chão
- 7 tempos – alongar na frente.

(Transição entre as sequências: 8 tempos com os braços e pernas suspensos)


















Sequência 2
Posição inicial: sentado, mãos e pés no chão.
- 4 tempos – pausa na posição inicial
- 1 tempo - cabeça cai
- 3 tempos - 1 giro com a cabeça para a direita
- 4 tempos – 2 giros de cabeça 
- 4 tempos – descer com o corpo em torção
- 2 tempos – pé direito no chão
- 6 tempos – torção para a esquerda + giro completo
- 8 tempos – levantar perna e torção + barriga no chão
- 2 tempos – barriga para cima
- 2 tempos – barriga para o chão
- 2 tempos – barriga para cima
- 2 tempo – chão.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Marrom bem marrom só que lilás

É marrom redondo e pequeno, bem pequeno. De tecido, por isso, na verdade me parece oval mas sei que é  um círculo perfeito só que meio dobrado. Com pequenos círculos dentro que na verdade são os "poros" do tecido.
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(O concreto é só o ponto que eu foco? Fiquei realmente na duvida... Só vale o que eu to vendo ou também vale o que imagino? É tão concreto quanto a minha visão embasada pela força de focar num micro ponto.  Está impresso num fundo branco/ é um lençol / ao lado dele muitos pontos marrons / distantes de mim próximos entre eles/ ao lado deles / embaixo deles/ grandes flores azuis e folhas verdes / É pra eu só falar do ponto marrom micro ponto marrom, mas minha visão periférica e minha distração me fazem ver todo o entorno / Tudo bem, sem crise... Agora, por exemplo, graças a um irmão dele que encontro bem perto de mim, sei que na verdade ele é lilás. De longe marrom. Mas era assim que eu via.)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Primeira tentativa de um primeiro encontro/ Queria não me envergonhar por ter escrito isso.


(Rory se joga em cima de um homem que passa.)

Rory: Ai desculpa é que você me deu uma vontade de me jogar assim.

Homem: É... Ok.

Rory: ( levantado-se) Pronto.

Homem:(embasbacado) Nossa! Eu realmente... Não sei como reagir.  Você... Me surpreendeu. É... (ri desconcertado) Parabéns.

Rory: Não me leve a mal. É que se eu não faço, não consigo dormir depois. Fico com essa dúvida de como seria, vira uma questão pra mim. É sério. Você nunca teve isso quando deixou de fazer alguma coisa?

Homem: Já, já... Eu compreendo.

Rory: Que bom. Tchau!

Homem: Espera. É que você é a primeira pessoa a me deixar assim... Sem saber o que fazer. Eu costumo ter resposta pra...

Rory:É... Eu sou uma pessoa de muitas perguntas.

Homem: E não é só isso. É que em determinado momento da vida a gente pensa conhecer todas as possibilidades de aproximação e de repente...

Rory: A gente nunca conhece tudo. Isso é uma conclusão tão óbvia. É interessante, mas acho que já disseram há mais de 2000 anos.só sei que nada sei.

Homem: Eu sei. Quer dizer... É diferente, perceber isso numa situação como essa, tão prática, tão pequena e ao mesmo tempo... suspensa.

Rory: Olha, eu realmente só queria pular em você.

Homem: Eu sei...

Rory: Que nada sabe agora. Que bom! Me sinto útil.

Homem: É que se você soubesse a vida que eu levo você entenderia...

Rory: Mas que vida hein?! Deve ser horrível essa sensação...

Homem: Como?

Rory: De saber como se portar em qualquer situação, de conhecer todos os tipos de pessoas, tudo perde o sentido né?

Homem: Talvez por isso o seu ato...

Rory: Ai chega! Eu não quero mais teorizar sobre isso. Eu sou movida pelas minhas vontades e isso as vezes é um problema. Não precisamos criar uma relação por causa disso... Você podia ter reagido de qualquer forma. Rolando pela calçada, imitando um cachorro, me jogando pra cima, sei lá... Eu não queria pensar, refletir, só não quis conter essa vontade... Agora com licença.

Homem: Ei! O seu nome pelo menos.

Rory: Como se isso tivesse alguma importância. Rory. Significa cabelos vermelhos e eu nem sou ruiva.

Homem: Não quer saber o meu?

Rory: Não. Tchau! (sai)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Descrição.

Ponto pequeno de tinta branca dentro de um grande buraco cinza aberto no teto, por infiltração, no canto da copa. Tamanho da ponta de um dedo indicador, do meu dedo indicador. É irregular, centralizado. É o maior dos pontos brancos dentro desse buraco cinza. É foco.

Branco.

Pequeno espaço branco do tamanho de um focinho, com alguns micro pontos mais escuros, deixando o espaço branco com sabor de flocos. Uma mancha, amarelo-ferrugem, suja a parte baixa do espaço branco e dois borrões pretos sujam a parte amarelo ferrugem. Um aspecto soft, fofinho projeta traços transparentes de diferentes extensões para fora da imagem. O ponto não é estático, é bem vulnerável em movimentos e ritmos. A luz e o cheiro também variam. O espaço total se for tirado da imagem real pode ser suportado na ponta dos dedos. Mole. Dentro provavelmente existam raízes. Ramificações rosadas e mortas também serão encontradas, pois o espaço não existe como pedaço. Pedaço branco sabor flocos com manchas amarelo ferrugem com dois pontos pretos e fiapos transparentes não existe, é morto como pedaço de alguma coisa.

(Exercício de descrição da Fe)

domingo, 25 de novembro de 2012

descrição

Entre as leves rachaduras do armário um ponto fosco, enferrujado, marrom e triste. Toda a forma áspera levemente inclinada  sai de um buraco apertado e pequeno. A retidão se finaliza com uma ponta afiada e seca. Seria um absurdo imaginar que foi pregado ali, pois sua postura se assemelha a uma raiz forte, concreta e que de lá nunca saiu. Em sua ponta podemos perceber que há mais escuridão. Preto. Grosso. Firme. Leves tons de marrom e prata. As mudanças de tons tem formas irregulares e tais formas existem mais para a esquerda do que para a direita e existem variações de tamanho. As menores se aglomeram quase formando uma só. Na parte pontiaguda o ferro é mais liso do que no resto,porém a aspereza prevalece. Sua sutil inclinação aponta para o chão de um jeito torto. Quase chegando na ponta afiada nota-se um leve risco  envolto na horizontal separando o lado reto do pontiagudo formando uma espécie de seta. A ferrugem dá um ar esfumaçado e sujo. As partes pratas entregam os locais não enferrujados que são mais oleosos refletindo a luz.

sábado, 24 de novembro de 2012

só que me desafina

- Oi, tudo bem? Então vou dizer logo, pq se até agora ainda não percebeu eu não vou esperar você terminar as coisas que tem pra cantar antes de me ouvir. Sabe  o que é? É que esse caranguejo quer me fazer ficar sentindo tudo, belisca meu peito, meus calcanhares.. me faz me afogar nesse nariz que arde por dentro...  É que eu ando em linha reta, entende? Até vc chegar, eu.... Ando tão bem, se vc pudesse me ver.... Mas essa... Roda.... ai, num giro a gente se encontra. Fico sempre tão enjoada... A verdade é que eu fico triste. Talvez vc pense que é raiva, me ache maluca, mas não, é tristeza. meio aguda pra não dizer que é grave. E nessa hora você ri. Só que não. Se você soubesse dos morcegos que moram no meu estomago, das borboletas pretas de asas navalhadas que dançam na minha garganta, da minha língua rocha, inchada. Mas é claro que eu entendo. Isso não acontece com você. É sempre tão bom me encontrar, não é? me sufocar com esses olhinhos. Tá tudo sempre tão bem e você não sabe pq eu fico calada. É que se eu abrir a boca essas borboletas correm e cortam seu peito inteiro, fazendo desenhos vermelhos vibrantes, esguicham, escorrem..... É que se eu abrir a boca eu te bato, bato muito até você estar em algum momento inteiro entregue, nem que seja à dor. Se você soubesse do esgoto. E do Sol que tenta secar todo o lixo, tornar tudo limpo e adubado, esse sol que banha a cabra que me faz querer ser um tempo que ainda não sou, que quer acabar logo com isso, pastar leve e calma... Só que não. Isso é só o que ela diz pra mim. Ela quer é se afundar. É que tb não é violência, veja bem, é libertação... Não é você. É esse muro enorme entre a gente. Você se sente sempre tão perto.... Queria que soubesse das grades. que me tornam louca e vc um daqueles caras de branco, limpos e sóbrios que vem trazer os remédios. E eu a um tempo de abrir a boca. Só que não... é que antes de nascer me decidiram sem tanto da criança que faz as coisas começarem, que agora só me resta girar... É por isso que antes que pare de cantar eu ainda consigo te entender, e não dizer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Primeiro dia

 Perdoem a menina por não saber dançar
Perdoem a menina por fraquejar, por não conseguir disfarçar a vergonha e por se colocar na posição menina. A perdoem por negar improvisações, não saber o que fazer e por não ter asas na cabeça. É que ela ainda precisa de justificativas e se prende na tentativa inútil de construir o que nem ruína chegou a ser. Talvez, quem sabe, ela um dia irá entender que é preciso abandonar as roupas usadas e mergulhar...no que mesmo? Talvez naquilo que a essa altura seria como dizer se chove ou faz sol. Que bobagem menina...deixe que a mistura do mistério caia de boca no  arco íris! É o que dizem por aí.
  A menina queria sumir, achou mais razoável vomitar e acabou engolindo.
 

Tentativa de se fazer um diálogo

A- Desculpa. Esbarrei. Desculpa.

B- Você sempre faz isso mesmo.

A- Alguma parte de mim sente prazer.

B- Eu não quero ouvir.

A- É como invadir alguém em poucos segundos e o que sobra é o susto.

B- Eu não quero ouvir.

A- Eu não quero mais falar sobe isso,ok? É que eu queria falar sobre exatamente quando não falamos e você faz isso melhor do que eu.

B- ....

A- Está vendo?

B- Eu tô ocupado.

A- Quando você terminar o que tem pra fazer me responde, ok?

B- Eu tô sempre ocupado.

A- Eu tenho um pouco de tempo pra vender, se quiser me procure.

B- O que?

A- Pra procurar.

B- Perdeu?

A- Desculpa.

B- Você sempre faz isso mesmo.

A- Eu prometo que irei achar. Prometo.

B- Você sempre promete. O que você vai fazer se não achar?

A- Eu vou pedir desculpas.

B- De joelhos? Com a coleira?

A- Aham.

B- Só serve de joelhos.

A- Tá bem, já disse.

B- Você vai lembrar de colocar a coleira?

A-vou.

B- Tá. Então abaixa.




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Para Elisa:

Você já pensou em casar? E em ter filhos, você já pensou? Já pensou em comprar uma casa, um apartamento, ter uma família e com ela querer mudar o mundo? Você já pensou, ou melhor, parou para pensar - porque tem um puta diferença entre pensar e parar para pensar - na desvalorização do aperto de mãos nos dias de hoje? Eu parei. Parei outro dia para pensar sobre isso. Você já pensou em mudar de sexo?; de nome?; de identidade? E de cidade, já pensou? Já pensou em partir para nunca mais voltar? No dia da sua  morte, já pensou? Você pensou, ou melhor, parou para pensar que vestir branco no ano novo é uma questão cultural? Eu já. Parei. Você já pensou como seria a sua vida se ela não fosse aqui? Você já pensou em ser mais feliz do que você é hoje? Já pensou em quebrar tudo, derrubar as paredes e viver sem limitações espaciais? Já pensou em ir morar no campo? E para de fumar? Hein? Já parou para pensar em parar de fumar? Você já pensou em ter uma moto no lugar de um carro? E um patins, já pensou? Já pensou em nadar pelado em uma praia cheia? Eu já. Nadei. Já pensou em ser famoso, fazer muito sucesso, ganhar muito dinheiro e doar toda a sua riqueza para uma ong? Você já pensou em ter uma ong? Eu já. Parei. Parei para pensar. Já pensou em nunca mais usar metáforas ao falar? Já pensou em viver no escuro e somente se alimentar de coisas vivas? Já pensou? Parei. Você já pensou que a distância entre eu e o você nada mais é do que a produção de espaço elaborada por nosso afeto? Eu já. Parei de pensar. Já pensou em comer bombom durante um dia inteiro? Já parou para pensar em responder todas as perguntas que lhe fizerem com uma risada? Parei. Pra pensar.

Imagem:

A Elisa pendurada nas pernas do Victor.

Analu:

"Ele parece o pão-de-açúcar, só que ao contrário".

Eu li num livro que a probabilidade de um beija-flor morrer esmagado é igual ou menor que a probabilidade de soltar duas pessoas, uma na Índia e outra no Brasil e esperar que elas se esbarrem em algum momento da vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Na época, isso foi agora! E ainda hoje parece nunca ter sido.

2 de abril de 2010

Nas vezes em que não me sou, devo ser ela. Cheguei numa fase de enjoo e desgosto. Que nojo o cheiro doce industrializado das mesmas vozes. Com quantos telefonemas não atendidos se constrói a distância? Estou acostumada a deixar meus amigos para trás. Mas sempre tendo em vista outra coisa. Desta vez estou sozinha, sem ponto de fuga e sem vontade. X viaja em duas semanas para passar 3 meses no Canadá. Y deve se mudar em um mês para a Europa. Queria que eles fossem amanhã. Daqui a pouco eles me esquecem. É só eu continuar não existindo. É isso que tenho feito, aliás. Não existido.

ela

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

três tentativas de estabelecer um primeiro encontro


---- tentativa 1

Clementine: Oi.
Joel: Como?
Clementine: Eu só disse oi.
Joel: Oi. Olá. Oi.
Clementine: Posso me sentar mais perto?
(Pausa)
Para onde você está indo?
Joel: Rockville Center.
Clementine: Não brinca! Eu também!
Joel: Sério?
Clementine: Que coincidência!
(Pausa)
Clementine: Eu te conheço?
(Pausa)
Clementine: Você faz compras na Barnes and Noble?
Joel: Claro.
Clementine: É isso! Eu já te vi, cara! Sou uma escrava dos livros há... 5 anos agora.
Joel: Eu teria lembrado de você.
Clementine: Deve ser o cabelo.
Joel: Por quê?
Clementine: Muda muito. A cor. É por isso que pode não ter me reconhecido. Chama-se Ruína Azul. A cor.
Joel: Entendi.
Clementine: Nome Bacana, né?
Joel: Eu gosto.
Clementine: Essa empresa tem toda uma linha de cores com nomes bacanas. Ameaça Vermelha. Febre Amarela. Revolução Verde. Seria um bom emprego, inventar esses nomes.
Joel: Acha mesmo que pode haver um emprego desses? Quantas cores de cabelo podem existir? 50, talvez?
Clementine: Alguém faz esse trabalho. Agente Laranja. Eu inventei esse. Coloco minha personalidade numa pasta.
Joel: Duvido muito.
Clementine: Você não me conhece, então não sabe, sabe?
(Pausa)
Joel: Desculpe, só estava tentando ser legal.
Clementine: Tá. Saquei.

---- tentativa 2

Clementine: Meu nome é Clementine, a propósito.
Joel: O meu é Joel.
Clementine: Oi, Joel.
Joel: Oi.
Clementine: Nada de piadas com o meu nome. Ah, não, você não faria isso. Está tentando ser legal.
Joel: Não conheço nenhuma piada com o seu nome.
Clementine: Dom Pixote.
Joel: Não sei o que é isso.
Clementine: Dom Pixote? Você é maluco?
Joel: Já insinuaram isso.
Clementine: Oh, querida, oh, querida, Oh, querida Clementina
Você foi embora pra sempre
Mas que pena, Clementina
...Não?
Joel: Sinto muito. Mas é um belo nome. É legal. Quer dizer “piedosa”, não é? Clemência?
Clementine: Mas não se encaixa muito bem. Sou uma vaca vingativa, verdade seja dita.
Joel: Eu não pensaria isso de você.
Clementine: Por que não pensaria isso de mim?
Joel: Não sei. Eu... Não sei. Eu só... Você parece legal, então...
Clementine: Ah, então agora eu sou legal? Não conhece outro adjetivo? Não preciso de “legal”. Não preciso ser legal e não preciso que outras pessoas sejam legais comigo.

---- tentativa 3

Clementine: Joel? É Joel, não é?
Joel: Isso.
Clementine: Desculpe ter gritado com você. Estou meio destrambelhada hoje. Devo admitir, constrangida, que gosto muito que você seja legal. Tipo agora, eu digo. Não sei dizer o que vou gostar de um momento para o outro, mas bem agora, fico feliz que seja legal.
(Pausa)
Joel: Eu tenho umas coisas que deveria... Estou escrevendo...
Clementine: Me desculpe!
Joel: Não...
Clementine: Claro. Tudo bem.
Joel: Sabe, isso é... (Leva um soco) Ei!
Clementine: Cuide-se.
Joel: Nossa!


 diálogo retirado do roteiro do filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças"


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

casa própria ruína

                                        Fonte: http://somostodosintelectuais.wordpress.com/  

Cenário de remoções na cidade escrota do Rio de Janeiro
Onde se especula construções e, inevitavelmente, ruínas.

tô indo mãe, só tenho que terminar de contar esses dias

quando que a memória é encaixotada, selada e arquivada como loucura? eu sou um reflexo do caos? qual o limite do meu corpo? quando eu perdi de vista as pintas e passei a perceber borboletas? espera, isso não era brincadeira? quando começou a ficar sério? quando eu posso parar de querer definir as coisas? quando terminar o que tem pra fazer, me responde, ok?

"Fui até o banheiro atulhado de roupas sujas, a torneira pingando, a cozinha com a pia transbordando pratos e panelas de muitas semanas, a janela de cortinas empoeiradas e o cheiro adocicado do lixo pelos cantos, depois resolvi tomar coragem e ir até o quarto dele. André não estava lá, claro. Apenas as revistas espalhadas pelo chão, a tesoura, as figurinhas entre os cacos dos móveis quebrados. Apanhei a tesoura e comecei a recortar algumas figurinhas. Inventava histórias enquanto recortava, dava-lhes profissões, passados, presentes, futuros era mais difícil, mas dava-lhes também dores e alguns sonhos. Foi então que senti qualquer coisa como uma comichão entre os cabelos. Aproximei-me do espelho, procurei. Era uma borboleta. Das azuis, verifiquei com alegria. Segurei-a entre o polegar e o indicador e soltei-a pela janela. Esvoaçou por alguns segundos, numa hesitação perfeitamente natural, já que nunca antes em sua vida estivera sobre um telhado. Quando percebi isso, subi na janela e alcancei as telhas para aconselhá-la: - É assim mesmo . eu disse. . O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas."

trecho do conto "Uma história de borboletas", de Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Posso te pedir um favor?


Caro primo José,
Sei que há muito não nos falamos, acho que a última vez que nos vimos éramos ainda crianças. Acho que eu deveria ter uns doze anos e você no máximo dez. Consegui seu endereço com a tia Norma. Fiquei feliz ao saber que você conseguiu vencer na vida e que até conquistou seu próprio apartamento aí na cidade grande, como costumávamos dizer.

Soube também que você tem um cargo importante em uma grande empresa multinacional e que ainda por cima encontrou a metade da sua laranja, soube que você se casou. O mais curioso é que escrevo esta carta para um homem bem sucedido, mas quando penso em você vejo aquele menino de dez anos, para mim, na minha mente, não consigo imaginá-lo com seus quase quarenta anos. Quando em penso em você surge aquele menino com o rosto coberto de sardas e calças curtas, sempre suado de tanto que brincávamos e corríamos naquele campinho.

É engraçada essa imagem que formo desse menino vendendo veículos e morando em seu apartamento da cidade grande, todo suado e vestindo um short curtinho. A vida é tão inefável, não é mesmo? É tão imprevisível.

Me lembro que quando crianças costumávamos nos perguntar: O que você vai ser quando crescer?
Engenheiro eletrônico você dizia. Será que você se recorda qual era minha resposta? Astronauta é o que eu dizia que viria a ser. Como é obvio, não sou. Não serei. Tornei-me palhaço. Melhor dizendo a vida me tornou palhaço. Na verdade quando entrei para o circo eu almejava ser trapezista ou quem sabe um artista do escapismo. Mas a natureza não me ajudou, não tenho estrutura física para o trapézio e embora tenha muito fôlego me falta o charme que se tem que ter para um artista escapista. Sou capaz de ficar cinco minutos com a cabeça submersa na água, se você quiser quando nos encontrarmos posso fazer uma demonstração para você. Pode ser até mesmo em um balde cheio de água. Mas. enfim, eles precisavam de um palhaço.

Mas estou me delongando por demais. O motivo dessa carta, um tanto saudosa, é pedir-lhe um favor. O circo acabou, faliu, e eu não tenho para onde ir. Estou em Campinas e permanecerei aqui até o fim deste mês, mas depois pretendo ir a São Paulo em busca de algum trabalho e não tenho onde ficar. Este é o favor que te peço, que dê abrigo para mim e para minha esposa.

Estou casado a poucos meses, me casei com a mulher invisível. Ela também era do circo. Peço abrigo por pouco tempo só até um de nós conseguir um sustento para podermos pagar um aluguel. 

Eu não sei o que será da minha vida, será que alguém sabe?

Olga, minha mulher, tem um dom, ela olha para qualquer pessoa e sabe como essa pessoa vai morrer. Mas apesar disso nem ela sabe o que será de sua vida. A propósito, eu morrerei de câncer de intestino, e ela de câncer de estômago. Nascemos um para o outro.

Fico por aqui, se acaso em nome dos bons tempos ou de seu generoso coração, puder me hospedar ligue-me nesse telefone. 0xx19-3213 1234.

É um telefone de recados.

Caro primo, me desculpe o tom saudoso e depressivo desta carta. Vivo um momento de grande angústia, estou muito assustado, quase sem esperanças. Te confesso isso pois quero poupar minha querida esposa, não quero que ela perceba a angústia que amargo. Eu quera ter fé, ou até mesmo um sonho. Eu queria olhar pro futuro e ver algo melhor do que um presente piorado. Queria olhar o presente e não sentir vergonha de mim. Tudo o que desejei se materializou em fracasso. Gostaria de te encontrar apenas para podermos correr naquele velho campinho. Sem preocupações, grandes ou pequenas.

Eu só queria correr, correr, correr...

Muito obrigado.
Saudade,
                                                                                                                do seu primo Boris.

P.S. O que você foi quando era criança?

(Prólogo da peça "O que você foi quando era criança?, Lourenço Mutarelli)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Na época, isso foi ontem! E ainda hoje parece ter sido.


A pouco tempo atrás, cheguei a classificar o enorme esforço feito para ir como "muito barulho por nada". Hoje, tendo acabado de sentir o chão firme de minha terra, fui obrigado a mudar minha opinião. Não pelo acontecimento como um todo mas pelas pessoas e, em especial, por você. Mais uma vez estou sendo obrigado a rever minha vida, tirando dela as histórias que tenho para contar - que gosto de contar. Na volta, conclui que você será mais uma delas. Dessas boas lembranças, que a gente gosta de ter.

Desde pequeno, meu lugar predileto é o aeroporto. Até hoje esse espaço me emociona, trazendo sensações que pouco sei ou procuro explicar. São viagens, chegadas, partidas, encontros, despedidas, muitos beijos, abraços, laços... É o poder de ir e vir que move o ser humano moderno - dono de seus caminhos e decisões. 

Pois bem, eu fui! Ou melhor, fomos. A Dóris disse que, na verdade, todos foram só para eu encontrar você. Ela acredita em destino, caminho, essas coisas que dou pouco valor. Talvez eu precise também rever esse meu posicionamento. Me lembro agora que, enquanto eu tomava banho e você me fazia companhia, perguntou se eu acredito em Deus. Acredito, eu respondi. E são por essas situações que passo a acreditar mais. Por esses encontros que são como presentes, surpresas boas, antídotos poderosos para o coração. 

Eu voltei, estou aqui, em casa: seguro, cansado, leve e pesado, feliz e saudoso. Já tenho saudade de ti. Uma vez, disse a alguém que minha vida é feita de saudade. Acho que tinha razão. Passamos tão pouco tempo um ao lado do outro que poderíamos julgar todo o ocorrido como loucura. Mas não. Se estivéssemos loucos, teríamos sido extremistas, como você mesmo disse, ou então desmedidos e por ai vai. Mas não. Soubemos respeitar o tempo e, o mais importante de tudo, nos respeitar também. 

Eu voltei. e agora sou como uma bolha prestes a explodir de alegria e prazer. Mal sabe, mas foi você a pessoa que me devolveu a crença nas coisas que sempre busquei acreditar: no amor, no romance, no encontro de almas e também na química - como você disse. Não eu não me importo com a sua idade, pois você não tem vergonha dela. Na verdade, foi a partir dela e da lovely que começamos, de fato, a travar o início de uma longa conversa. Digo longa, pois meu corpo, embora sem contato, ainda conversa com o seu. É que foi tão doce que não sei explicar nem traduzir em palavras. A minha barriga é feia, eu disse, e você nem se importou porque o grande barato do momento era saber se eu sentia cócegas ou não. Sim eu sinto. O grande barato foi, e ainda é, ver como você consegue ser enorme em uma cidade tão pequena; Ver como sua beleza se destaca; Ver sua ousadia, seus óculos - para não falar dos seus desenhos. Ah, os seus desenhos. Trouxe um cadinho deles comigo, rabiscados em uma camiseta que deixou de ser comum e jamais ficará velha. Agora ela é uma daquelas camisetas que a gente guarda para sempre, sabe? Aquele tipo de roupa que fica com o cheiro do perfume da pessoa amada. Através dos seus desenhos, lembro-me de seu rosto, olhos, beijo e nariz. Lembro-me também de sua coragem em ter dividido momentos tão importantes comigo. Lembro-me de você ali no restaurante, com as mãos grudadas nas minhas, não se importando mais com os olhares alheios. Você não me deu nenhum beijo hoje - você disse. Eu não soube o que dizer porque todo o tempo que passei sem lhe beijar o fiz em respeito a você. Resolvemos o engano. 

Naquela sala de aula, quente, no colchão tropicalista que sim, tens razão, daria um belíssimo casaco de moleton com zíper vermelho. Se um dia você o fizer saiba que será meu mais esta fabulosa peça odente. Como serão minhas também as peças que ainda vou encomendar. Agora que já tenho uma exclusiva, posso ter todas. Preciso dizer também que eu nem sabia que você adora jujuba, mas saindo do banheiro, os pacotinhos gritaram meu nome e eu, sem entender, os levei comigo. Bingo. Era jujuba o que você queria para aliviar aquela premiação para lá de tensa. É que ficou colado em mim o pedaço daquela parede, daquele cantinho, da grama daquele jardim. "Núúúúú", como você mesmo diria, expressando-se com entusiamo. É que ficaram em minha boca os sorrisos que demos, as alegrias que tivemos, o encontro marcado, que sem marcar ou pensar, realizamos. É que ficou na minha cabeça o quão especial foi tudo isso, o quão maduro e exato. 

É que saí desesperado do ônibus, correndo pelo prédio da universidade a sua procura - para lhe dar o último beijo, abraço, para olhar seus olhos, talvez, pela última vez. É que sem todas aquelas fotos eu não poderia ir embora. Nós dois ali, mais uma vez, naquela sala e eu falando sobre abstrações do momento, levando as situações para a filosofia. Você poderia ter achado um saco. Mas não. Disse que quando eu falo a imagem que vem a sua cabeça é a de vários livros se abrindo e fazendo aquele barulho do rápido passar entre páginas. Pequenino, eu não sou tão inteligente assim. Eu queria ter dito, mas não consegui. Pois a imagem que fazia de mim naquele momento foi umas das mais belas que já esboçaram. 

Sabe o que eu gosto mais em você? É que você quer ver todo mundo crescer, você também disse. Sim isso é verdade, procuro ajudar as pessoas sempre que posso. E procuro também torcer muito pelas que gosto. Mas nesses momentos, eu só tinha olhos para você e todo este entusiasmo que viu em mim, foi você quem gerou. Fui conhecer patos e me deparei com uma girafa, meu animal predileto - bonito, grande, do pescoço e corpo volumosos. Animal charmoso, presente e forte. Mais um para fazer compania a lovely, ao menino coelho e tantos outros bichos que por ai estão a andar, amar, conhecer e viver. É que realmente vivemos esses três dias de uma forma que jamais esquecerei. Agora entendo a força que não sei de onde tirei para me fazer presente nesta viagem, neste festival, neste eventopeçacoração. 

Ver você na primeira fileira do teatro foi fabuloso. Ver você me esperando lá fora. Nos ver caminhando, cantando... um brinde, eu sugeri: a nós. É que ainda preciso brindar mais. É que ainda preciso respirar, guardar você direitinho. Já colei na agenda o desejo de feliz dia das crianças; já guardei a blusa que ainda está com o peso de suas mãos; já revi as fotos e quero ver as outras; já contei a alguns e quero dizer mais. Tudo que se vive dessa forma é preciso ser narrado nos mínimos detalhes, que foram muitos. Em breve, lhe mando a foto que pediu e ,junto com ela, minha saudade e carinho.

"Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída
Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida..."

RISCADO, Caio. Preciso escrever, preciso do meu computador: eu disse in Casa de Avenca, http://www.casadeavenca.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2010-01-01T00:00:00-08:00&max-results=42, Rio de Janeiro: 13 de outubro de 2009.

Na época isso foi ontem e ainda hoje parece ter sido...

Era uma meninazinha, menor do que menina, mais miúda do que menininha, quase muda a coitadinha. É que certo dia, na verdade na época isso foi ontem e ainda hoje parece ter sido, ela contava até dez em voz alta, aguda, altíssima para uma meninazinha inha que nem ela e a mãe deu-lhe um tapa na boca. Depois ninguém sabe porque chora tanto nas aulas de matemática. A mãe era matemática, não de ofício, de alma. Exata, numérica, regrada, difícil, calculista, escalena, reta, obtusa. Mas a meninazinha quase muda ainda era feliz. Mesmo detestando matemática podia ser o que quisesse. E brincava de ser tudo, até meninozinho. Um dia a professora viu e deu-lhe um tapa na boca. Depois ninguém sabe porque chora tanto com os meninos. Mas meninazinha continuava feliz, podia ser tanta coisa ainda que fosse menina o tempo todo. Um dia, na verdade na época isso foi ontem e ainda hoje parece ter sido, resolveu ser atriz. Era uma maneira de ser tudo o que queria numa vida só. Contou ao pai, levou um tapa na boca. Depois ninguém sabe porque chora tanto no cinema. A essa altura era a menos meninazinha das irmãs e precisou começar a trabalhar. Empregou-se numa confecção de embalagens plásticas. Doía feito tapa. Mas meninazinha podia ser tanta coisa dentro da cabeça. Um dia inventou de se apaixonar, na verdade na época isso foi ontem e ainda hoje parece ter sido. Contou a uma amiga que deu-lhe um tapa na boca. "Ele não presta" disse enquanto casava com ele na semana seguinte. Outro se apaixonou por meninazinha, quase muda, quase mulher. Disse que não queria, Outro deu-lhe um tapa na boca. Depois ninguém sabe porque chora tanto em casamento. Meninazinha não queria filhos, não gostava do que o mundo fazia com as crianças, após um segundo tapa de Outro engravidou. Depois ninguém sabe porque grávida chora tanto. Um dia, na verdade na época isso foi ontem e ainda hoje parece ter sido, nasceu o filho. Meninazinha quase muda, agora mãe, já não era mais feliz, mas ainda assim não conseguiu odiar aquela coisinha tão pequena, tão miúda, quase muda que nem ela. Amou o filho. Mas quando abriu o berreiro ainda no hospital tratou de dar-lhe um tapa na boca. Ontem mesmo me perguntavam: 'Que diacho de criança é essa que não chora?'

domingo, 4 de novembro de 2012

Leva dore

Por favor não me entenda mal, a gente nem se conhece, mas eu precisava falar algumas coisas que eu comecei a pensar nos últimos minutos. Por favor, fecha a porta do elevador?! As coisas tem o seu ritmo e se ficarem presas por algum tempo... já sabe né? No mínimo, é gritaria depois. Foi isso que eu senti agora. As coisas presas aqui dentro. Dentro da minha boca, da minha casa. Por isso saí até o corredor. Corredor parece que aponta um caminho, né? E te dá a segurança da volta. Mas não é sobre isso que eu quero falar. É que aqui dentro tem coisas que... eu sei que já estão escapulindo pra fora, na minha cara ou no jeito em que estou vestida ou até mesmo nessas almofadas e caixas que não cabem mais lá dentro. Você sabia que o olhar é o que prende? Não que eu queira prender você, mas eu gostaria que você me olhasse enquanto eu falo. Você pode por favor parar um instante de apertar botões? Sua camisa está ótima, o celular está fora de área e o elevador não vai subir agora, porque sempre que precisamos  muito de alguma coisa ela demora, porque já passamos na frente dela, entende? Isso me lembrou que quando pequena minha mãe pediu para eu chamar o elevador enquanto ela terminava de fazer alguma coisa que os adultos fazem antes de sair, lembro que parei em frente a porta e comecei a gritar " LEVADORE, LEVADORE".
Espera! Não abra a porta. Talvez a luz aí de dentro me faça esquecer tudo, ou me leve para outro lugar. Igual a um sonho que qualquer ação modifica o resto. Sem deixar marcas de quem você era antes, sabe? Você reconhece em você alguma marca do que você era? Do que você era antes de alguma coisa? Antes do que você é agora? Antes de abrir essa porta pela primeira vez? De alguma forma eu tenho marcas em mim do que você era. De quando você estava mais dentro. Bom, eu espero. Sentada nas minhas almofadas que não me cabem mais. Mas não era sobre isso que eu ia falar. Quanto tempo passou depois dos últimos minutos? Quando você terminar o que tem pra fazer você me responde, ok?