fragmentos do trabalho de João Castilho

sábado, 16 de fevereiro de 2013

deixa eu terminar o que tenho pra fazer depois você me fala em liberdade, ok?

- oi. OI! Tem alguém aí? Vocês estão por aí ainda, não estão? (Silêncio) Todo mundo consegue fugir. É engraçado. Inventam logo um lugar melhor pra ir e ainda continuam presentes feito fantasmas. Diferentes caminho pro mesmo lugar. Eu queria era dizer que não há liberdade. Outro dia saindo de casa vi um beija flor ser morto atropelado, sabia? É... Tem quem duvide mesmo. Mas eu vi. E depois, as borboletas ainda foram lá chupar seu sangue. Pra onde será que elas foram depois que quebraram o vidro do carro? Um mundo inteiro lá fora e eu nadando de um lado pro outro sem nenhuma janela decente pra olhar. Sabe, meu camarada, isso não é uma reclamação. É um 360. Esse cara que olha pra tudo como um... Ele veio me falar de liberdade... Ele realmente acha que conta a própria história... Ele realmente acha que escolheu ter entrado aqui, ter olhado pra saia da ruiva baixinha, ter seguido os passos da magrinha. Ele se sente livre. Eu sinto pena. Vê a forma como ele olha pras coisas? Aquele ar de observador, como se só dependesse dele as coisas ganharem um novo rumo. Não, querido! Eu queria contar pra ele da mulher que tentou se jogar da barca, do cara que se envolveu com um amigo e acabou sofrendo por se entregar, contar de um menino criado por uma puta, de um professor que matou a aluna, de um arquiteto sujo de barro, de uma praia que não teve fim, um hamburguer, uma foto antiga de dois amigos no carnaval e depois uma cerveja com os ratos na beira do mar. Mas pra ele não vale o que eu imagino. E ainda vem me falar de liberdade.

Um comentário: