fragmentos do trabalho de João Castilho

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Me escuta, Inês.

- Olha Inês, lá vem você, você e essa sua mania apaixonante de se despedir de mim com ares de reencontro. Eu te perdoei, sim, sabe porque? Porque a falta que você me fazia era maior que a cicatriz da sua falha. E quem não falha? Fala. Fala alguma coisa. Ou então, tudo bem, não fala, não diz nada, mas me deixa ficar olhando pra você, assim, e ver o oceano da minha voz ecoar na sua cabeça. Seus olhos denunciaram, Inês, eles sempre denunciaram que alguma coisa estava fora da ordem. Mas você muita esperta, Inês - casta, sagrada -, muito inteligente. Eu ficaria aqui, meu desejo era só esse, ficar aqui olhando pra você, muda, casta, imóvel. É interessante como você corre, corre, corre uma maratona sem sair do lugar. Que legal isso. Olha Inês, olha aquela menina que eu te falei ali, ela tá alí ó, olha como ela limpa essas cadeiras, parece um ritual. Olha Inês, eu ficaria aqui contigo, meu desejo era esse, mas tem alguma coisa no processo de trabalho dessa mulher que eu preciso entender. Eu olho pra ela trabalhando e sinto um prazer engraçado, uma sensação de satisfação que arrepia. Eu preciso fazer uma pergunta pra ela. E não precisa ficar preocupada, eu não vou ser invasivo não. Prometo. Já volto. Volto já. Me espera aqui.

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